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Brasil ajuda países africanos a modernizar produção de algodão


Brasil ajuda países africanos a modernizar produção de algodão

Projeto ‘Cotton 4+Togo’ reúne especialistas brasileiros e africanos para modernizar produção algodoeira na África. Foto: Embrapa/Fabiano José Perina

Da ONU Brasil 

Benim é um país da África ocidental com população de aproximadamente 9 milhões de habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) estimado em 8,3 milhões de dólares. Para gerar cerca de 10% desse montante, grande parte dos beninenses trabalham na produção de algodão, setor considerado estratégico para o desenvolvimento do país. Na África, Burquina Faso, Chade e Mali têm um quadro econômico similar ao de Benim.

“Mais de 10 milhões de pessoas na região dependem diretamente da produção algodoeira, e outros milhões são indiretamente afetados por problemas enfrentados pelo setor, que passa por diversos desafios nos âmbitos nacional e internacional”, explica o oficial de programa em cooperação Sul-Sul do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Daniel Furst.

Como um dos líderes mundiais em tecnologias de plantio direto do algodão, o Brasil iniciou em 2009 um projeto de cooperação Sul-Sul com os quatro países africanos — o Cotton-4. O objetivo é estimular a modernização do setor algodoeiro e empoderar agricultores locais.

A iniciativa é resultado de uma parceria entre  a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o governo das quatro nações africanase o PNUD.

“É inédito o que essa cooperação nos trouxe. Hoje, com apenas um clique na tela, posso fazer análises estáticas e revelar as diferenças analisadas ”, relata o chefe do departamento técnico e administrativo do centro de pesquisas agrícolas de Benin, Sinha Maurice.

Outros envolvidos contam que a modernização produtiva exigiu estudos sociais e culturais. “Como fazer transferência de tecnologia em um país com uma cultura completamente diferente, com vários dialetos, várias línguas locais? É preciso ter uma preocupação com a sociedade, para produzir algo que melhore as condições de trabalho e a qualidade de vida”, explica o coordenador do projeto pela EMBRAPA, José Geraldo Di Stefano.

O especialista conta que novas ferramentas e sistemas de produção conseguem reduzir o tempo que os agricultores passam no campo sob circunstâncias inóspitas. “Nos momentos de alta temperatura, a dez centímetros do solo, faz 67º C. É aí que entra a tecnologia agregada ao conhecimento, para que as pessoas não se submetam a essas condições”, afirma o representante da EMBRAPA.

“O modelo da cooperação brasileira é diferente. Os outros chegam com um modelo já pronto, e eles obrigam a aplicá-lo. O modelo brasileiro é concebido junto com os países parceiros”, elogia o responsável administrativo e financeiro do Cotton-4, Roubacar Diombama.

Novos parceiros

A primeira fase do projeto terminou em 2013. “Nesse ano, nós produzimos duas toneladas [de algodão] por hectare, o que representa uma exceção no Mali”, conta o técnico agrícola do projeto, Sidiki. A média de produção do algodão por hectare no campo é de 800 quilos a uma tonelada. Na estação de três anos atrás, o índice chegou à marca de seis toneladas.

Outros resultados positivos do Cotton-4 incluem a difusão de conhecimentos científicos  que podem estimular o crescimento socioeconômico das comunidades. A iniciativa realizou 21 capacitações, formando 425 técnicos. A segunda fase do programa contemplou outro país africano, o Togo, onde o Cotton-4 começou a ser implementado em 2014.

“O processo é de aprendizagem para todos os envolvidos no projeto. Tivemos um avanço trabalhando de forma participativa, de forma horizontal com os países e construindo juntos toda essa aprendizagem nesse processo de transferência de conhecimento”, relata o coordenador de projetos na África, Ásia e Oceania da ABC, Nelci Peres Caixeta.

Tecnologia em prol do ser humano

Entre as tecnologias que têm sido transferidas para países da África, estão técnicas de aprimoramento genético, manejo integrado de pragas e plantio direto sob cobertura vegetal. Segundo o PNUD, essas estratégias não só ajudam a diminuir o impacto das mudanças no meio ambiente provocadas pela agricultura, como também reduzem a pobreza.

“O foco da iniciativa é o ser humano e, para isso, o projeto semeia não somente uma visão tecnológica, mas também uma visão antropológica, visando ao fortalecimento dos países para enfrentar os grandes problemas pelo qual o continente passará nas próximas décadas”, completa Di Stefano. “Fui trabalhar lá pelas crianças, mas não pelas crianças que estavam nas ruas hoje, e sim para os netos delas”, conclui.

Devido ao sucesso da iniciativa, o Cotton-4 inspirou outras duas parcerias entre o Brasil e a África no ramo algodoeiro. O Cotton Shire-Zambeze: Projeto regional de fortalecimento do setor algodoeiro nas bacias do baixo Shire-Zambeze incluiu Malauí e Moçambique, enquanto o Cotton Victoria estabeleceu vínculos de cooperação com Burundi, Quênia e Tanzânia.

Em 2016, a iniciativa recebeu o primeiro Prêmio “S3 Award” de Cooperação Sul-Sul para o Desenvolvimento Sustentável, organizado pelo escritório regional do PNUD para a América Latina e o Caribe (RBLAC), com apoio do Escritório de Apoio a Políticas e Programas/Cooperação Sul-Sul (BPPS/SSC), de Nova York. O projeto brasileiro foi um dos quatro ganhadores da premiação, que avaliou 33 programas de 19 países da América Latina.

Clique aqui para ler a publicação original, no site da ONU Brasil. 

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