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Denunciando desmonte, reitor da UFSB renuncia

Decisão vem um dia depois do suicídio de reitor preso arbitrariamente e exposto a espetáculo midiático - outra da faceta do golpe. Para Boaventura de Sousa Santos, comunidade perde "um dos seus mais inovadores dirigentes"


Denunciando desmonte, reitor da UFSB renuncia

Reitor Naomar Almeida Filho Reitor Naomar Almeida Filho "levou mais longe e mais fundo" projeto de democratizar a universidade. Foto: José Cruz/Agência Senado

Da Rede Brasil Atual

reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Naomar Almeida Filho, pediu exoneração do cargo nesta segunda-feira (2), denunciando o boicote a "inovações curriculares de maior potencial inclusiva", como a redução de vagas em curso de saúde, e articulações políticas que visam a sua substituição, a partir de uma eleição que, segundo ele, exclui a sociedade do processo de escolha dos dirigentes, em desacordo com a estatuto da universidade. 

Em carta aberta, Naomar Almeida Filho comparou o movimentação pela sua substituição num processo, segundo ele, ilegítimo, com o contexto da atual crise política que afeta o país, desde o golpe do impeachment que alçou Michel Temer à presidência da República. 

"Que tipo de política estariam praticando os que promovem esse golpe? Certamente a de mais baixo nível, incompatível com a dignidade da instituição milenar da Universidade. Qual a diferença disso para a trágica, lamentável e vergonhosa crise política do país, depois do triste espetáculo de um impedimento presidencial injusto, embora protegido pelo manto da legalidade?", questiona o reitor demissionário. 

A decisão vem em seguida ao forte abalo sofrido pela comunidade acadêmica com a morte do Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier. Preso, depois solto e afastado, devido a uma investigação da Polícia Federal (PF) que apura supostos desvios de recursos, Cancellier foi encontrado em um shopping, em Florianópolis. Pessoas próximas afirmam que o reitor teria sido vítima do Estado de exceção que a Justiça hoje impõe ao país.

Em seu site Conversa Afiada, Paulo Henrique Amorim observa que a delegada Érika Mialik Marena, que pediu a prisão de Cancellier, poder ser responsabilizada pelo suicídio do reitor. "A delegada Marena teria mandado prender o Reitor sem ouvi-lo; A delegada Marena mandou prender o Reitor sem ouvi-lo porque suspeitou que ele ‘fazia manobras para criar obstáculos às investigações’. Como não provou essas suspeitas, a Juíza mandou soltá-lo; A delegada Marena acusou o Reitor de crime que teria cometido antes de ele assumir a Reitoria! A delegada Marena estaria baseada em 'delações'", enumera o jornalista, ao citar que a 'metodologia' Marena foi apreendida na década passada com Sergio Moto e o procurado Carlos Fernandes dos Santos Lima, operadores na Lava Java. (Leia o post na íntegra.)

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, professor aposentado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, afirmou que a universidade brasileira "perde um dos seus mais inovadores dirigentes", e disse que parte da comunidade acadêmica está "consternada e revoltada", pelos motivos expostos por Almeida Filho para justificar a sua saída. 

"Naomar foi sem dúvida, do meu conhecimento, o alto dirigente universitário que levou mais longe e mais fundo o projeto de democratizar social, política, cultural e epistemologicamente a universidade. A universidade brasileira perde um dos seus mais inovadores dirigentes e essa perda reflete-se em toda a comunidade acadêmica brasileira e latino-americana e, de maneira muito particular, no Centro de Estudos Sociais e na Universidade de Coimbra, que tinham com a UFSB um convênio de cooperação muito vinculado às inovações que estavam  ter lugar no Sul da Bahia", ressalta Boaventura.

Assista à reportagem da TVT:

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