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Em Belo Horizonte, Franklin Martins e José Maria Rabelo falam sobre golpes e democracia no Brasil

Evento lotou a Casa do Jornalista, na capital mineira


Em Belo Horizonte, Franklin Martins e José Maria Rabelo falam sobre golpes e democracia no Brasil

Franklin Martis e José Maria Rabelo no Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais

A democracia e os golpes no Brasil foram tema de um diálogo aberto realizado na noite desta sexta-feira (7) na Casa do Jornalista, em Belo Horizonte. Os jornalistas Franklin Martins, coordenador do Memorial da Democracia, e José Maria Rabelo, editor do Jornal Binômio foram os debatedores convidados do evento, que reuniu dezenas de ativistas sociais e profissionais da área de comunicação num bate-papo que alinhavou a trajetória das lutas do povo brasileiro nas últimas décadas.

Traçando uma linha histórica desde a era Getúlio, Franklin Martins falou sobre a incapacidade dos setores conservadores da época em lidar com o surgimento de uma classe trabalhadora que exercia o direito do voto. "As forças conservadoras não sabiam lidar com a nova situação que crescia a partir de 1945, que era a democracia de massas. Ele não tinham programa pra isso. E jamais se conformaram com a influência política dos trabalhadores, que pautava a disputa de igualdade, o desenvolvimentismo, a construção de um Estado Nacional".

Apesar do florescimento cultural e a crescente pressão da população por mais direitos, a agenda dos conservadores continuava a mesma: evitar que as forças trabalhistas alcançassem o poder. "Eu costumo dizer que – com toda a efervescência política, cultural, a construção de Brasília, o florescimento artístico, os anos 50 são conhecidos como os Anos Dourados. Dourados, mas nem tanto: de 54 a 64, tivemos nós tivemos quatro tentativas de golpe articuladas pelo alto comando das Forças Armadas. Até que chega em 64 e eles conseguem".

Para Franklin Martins, a contradição deste período de 45 a 64 é o aumento progressivo dos trabalhadores na força política versus a influência crescente das teses golpistas entre os setores conservadores. "Essa contradição moveu a vida política nacional ao longo destes quase 20 anos. Durante este período, em diferentes conjunturas, mudaram os atores, as circunstâncias variaram, oscilaram as correlações de forças. O pano de fundo, no entanto, continuou sempre o mesmo: o ambiente democrático que se mostrava fértil pela expressão das reivindicações populares era visto como uma ameaça."

Luz no fim do túnel
O golpe de 2016 dominou os comentários e perguntas feitas pelo público. Apesar de reconhecer a dificuldade do atual cenário político, Franklin e José Maria se mostraram otimistas com os rumos do Brasil. "Acredito que, com todos estes golpes que vivemos, a sociedade está muito mais preparada para receber uma proposta de transformação do que estava antes. Precisamos unir as nossas forças e apresentar um projeto. Por isso não sou pessimista. Nós podemos apresentar um projeto e vencer já as próximas eleições, defendeu o fundador do jornal Binômio.

Franklin concorda com o ponto de vista de José Maria e acredita que o barco dos golpistas da atualidade já está virando. "Qual é a base da política? A base da política não é discurso do deputado, não são os artigos dos colunistas. A base da política é a experiência das pessoas. E a experiência das pessoas nas duas últimas décadas é que  o povo cabe no país e que o país é mais forte se for integrado a ele. Isso matou o discurso da direita."

Na opinião de Franklin, nós temos um golpe absolutamente à deriva. "Há um ano no poder, eles não podem mais dizer a culpa desta crise econômica bruta é da Dilma. Eles perderam a bandeira da competência, da corrupção e da legitimidade. Para a direita, o pobre é pobre porque merece ser pobre. Ele não tem condições de ser nada diferente daquilo que ele é. Para a esquerda, o pobre é pobre porque não teve oportunidade. As pessoas estão se dando conta".

Democratização da mídia
Avançar rumo à regulação dos meios de comunicação continua sendo um desafio e o assunto foi destacado diversas vezes durante o debate. Na avaliação de Franklin, o monopólio da mídia foi naturalizado no Brasil. "É como se só pudesse ser assim e pronto. E, de uma forma geral, as forças progressistas enfrentaram pouco esta situação. Eu acho inacreditável que as forças progressistas não tenham um jornal forte no Brasil. Antes do golpe tínhamos o Última Hora, que do ponto de vista do jornalismo e da qualidade técnica foi um jornal exuberante. Nós nos acomodamos nesta área e esta é uma reflexão que precisamos fazer."

Memorial da Democracia
Franklin também aproveitou o momento para contar sobre a experiência do Memorial da Democracia, um dos principais projetos do Instituto Lula. "O Memorial é um museu virtual que vai até você, na sua casa,  rua, no metrô. Ele é um museu multimídia. Não tem só texto, tem música, vídeo, documentos, jornais de época. É um museu que dialoga com a juventude e com as novas formas de se informar. Tem política, tem economia. Os grandes momentos do jornalismo estão ali. É bom para quem dá aula consultar, mostrar para os alunos. É uma tentativa de mostrar nesta área digital. É um modelo inovador, está antenado com um novo tempo", pontuou.

O evento foi promovido pelo Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais em parceria com o Instituto Lula. Na próxima segunda-feira (10), às 19h30, o ex-presidente Lula estará no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, para o lançamento oficial da segunda etapa do Memorial da Democracia. A atividade é aberta ao público.

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