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Ex-presidente de Gana a Lula: A história lhe será gentil


Ex-presidente de Gana a Lula: A história lhe será gentil

Lula e o então presidente de Gana John Kufuor. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O ex-presidente de Gana John Kurfuor foi convidado para participar do seminário internacional “Ameaças à Democracia e à Ordem Multipolar”, realizado pela Fundação Perseu Abramo na última sexta-feira (14). Apesar de não poder ter comparecido, Kurfuor enviou uma carta a Lula, lida pelo ex-chanceler Celso Amorim durante o evento. Na mensagem, o ganês lamenta a situação política que o país atravessa, exalta o trabalho de cooperação entre Brasil e África durante os governos Lula e presta solidariedade ao ex-presidente. 

"É sem dúvida chocante ver alguém que fez tanto por seu povo, assim como pela paz e pela cooperação entre diferentes nações e continentes, privado de sua liberdade pessoal, e da possibilidade de continuar contribuindo para o avanço da democracia e do progresso social no Brasil", avalia o ganês. “'Respeito' é a palavra sobre a qual eu gostaria que todos os brasileiros, incluindo aqueles em distintos partidos políticos e setores do governo, pudessem refletir. Este é a sustentação das sociedades estáveis e pacíficas, comprometidas a governar à si mesmas democraticamente”. E completa: "Tenha coragem, meu bom amigo, que a história certamente lhe será gentil".

Confira a íntegra da carta, traduzida para o português. 

Caro Lula,

Saudações de Accra, Gana!

Fui convidado pelo nosso bom amigo, seu ex-Ministro Celso Amorim, para ir ao Brasil no dia 14 de setembro por ocasião do seminário “Ameaças à Democracia e à Ordem Multipolar”. Contudo, por mais que eu lamente, não conseguirei comparecer pessoalmente. Mas eu não poderia deixar de compartilhar meus pensamentos neste evento tão marcante.

Como muitos de seus amigos e admiradores na África e ao redor do mundo, é com profunda tristeza que tenho acompanhado os períodos de turbulência política que o Brasil atravessa. É sem dúvida chocante ver alguém que fez tanto por seu povo, assim como pela paz e pela cooperação entre diferentes nações e continentes, privado de sua liberdade pessoal, e da possibilidade de continuar contribuindo para o avanço da democracia e do progresso social no Brasil.

Assim como eu, você dedicou toda sua vida para aliviar a pobreza entre a sua gente, e para a promoção da governança democrática em sua nação, o Brasil.

De Gana, em 2003, eu segui com muito interesse a sua primeira visita à África, como presidente recém-eleito do Brasil. Eu pude então perceber que o seu comprometimento anunciava o renascimento de uma grande relação entre o Brasil e o continente Africano. Sua visita à ilha de Gorée, no Senegal, onde pediste perdão pela escravidão, foi uma verdadeira marca na história.

Eu tive a oportunidade de recebê-lo em Accra mais de uma vez. Também tive a honra de realizar uma visita oficial ao Brasil. Em todas estas oportunidades eu pude ver que a África era uma grande prioridade para seu governo. Viajaste ao continente mais do que qualquer outro presidente brasileiro, abrindo embaixadas e construindo pontes entre os povos da África e da América do Sul nos campos da cultura, agricultura, transferência de tecnologia e comércio. Você é um verdadeiro pioneiro da cooperação Sul-Sul.

Em 2011 nós dois compartilhamos o World Food Prize, por combater a fome enquanto servimos como presidentes de nossas nações. Seus programas “Fome Zero” e o “Bolsa Família” foram emulados por vários governos africanos, muito frequentemente com a assistência direta de seu governo.

Após deixarmos nossos respectivos cargos, mantivemos nossa relação fraternal, que é baseada em visões de mundo similares e respeito mútuo. De fato, “respeito” é a palavra sobre a qual eu gostaria que todos os brasileiros, incluindo aqueles em distintos partidos políticos e setores do governo, pudessem refletir. Este é a sustentação das sociedades estáveis e pacíficas, comprometidas a governar à si mesmas democraticamente, como o mundo vê que o Brasil é.

Sem dúvida, as qualidades de liderança e governança que você presta à sua grande nação, o Brasil, lhe estabeleceram como o símbolo de uma grande e transformadora liderança. Então, tenha coragem, meu bom amigo, que a história certamente lhe será gentil.

Por favor, tenha certeza que, apesar da minha ausência neste importante seminário, eu estarei rezando por sua liberdade, bem como pelo respeito que você merece por ter servido tanto à sua nação e à toda a humanidade.

Com meu mais sincero afeto,

Seu amigo,

John Kurfuor

Ex-presidente de Gana. 

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