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Franklin Martins: A reconquista da democracia virá

Para o jornalista e ex-ministro da Comunicação, a retomada democrática exigirá instrumentos como a regulamentação da mídia, que hoje atua como partido


Franklin Martins: A reconquista da democracia virá

Martins: 'Toda mídia faz política, o que temos de novo é a mídia se comportando como um partido político' (reprodução/TVB)

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Da Rede Brasil Atual 

“Sou um otimista moderado (…) o lado de lá não tem nomes. Onde foram parar José Serra, Aloysio Nunes, Aécio Neves (senadores tucanos)? O que fazem da vida? Não digo que aqui está ótimo, está complicadíssimo, porque eles desorganizaram o país e só eleições livres, diretas e sem perseguição do Judiciário vai pacificar o povo”, disse o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Franklin traçou um panorama do cenário político-eleitoral recente e observou que ninguém ganha eleição sem debater temas que são problemas das grandes multidões. "Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi eleito porque falou da inflação. O PT foi eleito porque promoveu a inclusão social. Como a direita quer ser eleita agora dizendo que vão acabar com a Petrobras, a Eletrobras, com bancos públicos e excluir o Nordeste da economia? Eles querem fazer uma manipulação de massa mas estão entalados", disse.

“Deram um golpe e disseram que não era golpe, que era impeachment. Disseram que acabariam com a corrupção, que era culpa do PT. E disseram que ajeitariam a economia em seis meses. Agora, apesar de todo o massacre midiático, boa parte do povo sabe que foi golpe. Segundo, quem deu o golpe foi uma quadrilha com nomes como o Eduardo Cunha. Eles eram os corruptos. Terceiro, depois de um ano de Michel Temer (MDB), o Brasil está com a miséria crescendo, desemprego. Estão destruindo o país e estão sem discurso”, completou.

O ex-ministro participou do programa Contraponto, exibido nesta segunda-feira (7) pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e pela RBA. O programa teve a participação do blogueiro Eduardo Guimarães e da jornalista Ana Claudia Mielke, do coletivo Intervozes, com mediação da presidenta do sindicato, Ivone Silva.

Ivone lembrou entrevista da ex-presidenta Dilma Rousseff, ao jornal argentino Página 12, em que afirmou que a mídia brasileira passou a fazer política e liderou um "ambiente de caos", disse Ivone. O jornalista ressaltou que “toda mídia faz política, o que temos de novo é a mídia se comportando como um partido político e usando concessões públicas para fazer este trabalho”.

Franklin falou sobre o fato de a democratização da mídia ter de passar por um processo de regulamentação, algo que existe na grande parte do mundo democrático, em países como França, Estados Unidos e Inglaterra.

“Quando falam em regulamentar a imprensa, acusam de censura. Mas o cartel da imprensa é que vem censurando tudo que vai contra o programa político deles de retrocesso, de fim da democracia. Eles só conseguem dominar o país escondendo informações e o que eles pensam”, disse.

Como exemplo, citou a natureza do tríplex atribuído a Lula, que o levou ao cárcere há um mês. “Acho estarrecedor. Passou-se ainda ideia de que o tríplex era um imóvel de luxo. Precisou o MTST ir lá para vermos que o que existe é um apartamento modesto que tampouco era de Lula. Por que nunca mostraram isso? É censura.”

O jornalista reiterou que acredita no retorno da democracia. “A direita não tem mais para onde ir. Em 1964 deram um golpe contra expectativas de mudanças. Desta vez, deram um golpe contra experiência de mudança. A essência deles faliu. Quando o povo é encarado como ativo, quando o Nordeste é incluído na economia, o país fica forte. Quando tudo isso se dissipa, ficamos neste nada, nesta vergonha. Mas eles vão passar, serão tirados.”

Para ele, essa retomada democrática não tem data, mas quando vier, carece de fortalecimento das instituições populares. “Na reconquista, vamos precisar de um sistema político melhor, de um Judiciário que não seja de castas nem partidário. E na mídia, precisaremos de pluralidade. Só o voto não é suficiente, temos que ter possibilidades de liberdade, o povo tem que ser mais ouvido.”

Assista ao programa completo:

Panaceia ou realidade?

Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, questionou o ex-ministro sobre a eficácia real de se criar formas de regulamentar a mídia. “Na Argentina diziam que a Lei de Meios seria uma panaceia. O projeto foi elogiado na ONU e aqui foi vendido como censura. Mas lá, mudou o governo e tudo foi desfeito com um estalar de dedos”, disse.

“Não tenho a visão de que regulação é panaceia. Acho uma necessidade para a democracia, mas não vai resolver todos os problemas. O Bolsa Família também não resolve tudo. Precisamos de um conjunto de políticas públicas. Na Argentina, fizeram a lei e a direita atacou, mas isso não significa que, quando a direita perder, a Lei de Meios não vá voltar", respondeu o ex-ministro. "Brasil e Argentina não são iguais. A Argentina é um potro fogoso, forma maioria política e perde com rapidez. O Brasil é um elefante, não pula a cerca e não tira a pata do chão. Aqui, as transformações são lentas."

Ana Cláudia, do Intervozes, questionou sobre os porquês de nem Lula, nem Dilma terem criado mecanismos de democratização da mídia. “Havia um setor da economia que queria derrubar o PT em conjunto com os meios de comunicação que tornaram o golpe viável. Por que esse assunto gera um receio na esquerda? Falar de regulação econômica da rádio difusão?”, perguntou. Para Martins, o fato de nunca termos regulamentação no setor, “naturalizou” a ideia de censura.

“Nunca tivemos regulação. Sou a favor da regulamentação das concessões e não da mídia. Tem que cumprir obrigações para ter concessão pública. Todas as áreas nesse modelo têm, como transportes. Sempre dizem que é censura, o que é uma mentira, porque no mundo inteiro existe. A sociedade precisa de pluralidade. Eles naturalizaram essa ideia, desde os anos 1950, de que não precisa de regulamentação, como se a concessão fosse propriedade de grupo econômico (…) Vê se alguém fala que controle é censura quando se fala de França ou Inglaterra”, completou.

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