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Vídeo: jovens evangélicos ganham importância política

Jovens evangélicos são a maioria e a religião é também a mais negra do Brasil, mais até do que as religiões de matriz africana, constata Gate Papo, programa de entrevistas do Instituto Lula


Vídeo: jovens evangélicos ganham importância política

Reprodução

Jovens evangélicos são a maioria e a religião é também a mais negra do Brasil, mais até do que as religiões de matriz africana, constata Gate Papo, programa de entrevistas do Instituto Lula



“Não é possível falar de qualquer questão política no Brasil ignorando os evangélicos.” A frase, do professor e sociólogo Rafael Rodrigues, dá a dimensão da importância do Gate Papo promovido pelo Instituto Lula nesta terça-feira (28) sobre o papel dos jovens evangélicos na política. 

Rafael é pesquisador da relação entre religião e classe social no Brasil contemporâneo e foi o convidado para o debate com os professores e pesquisadores Rosemary Segurado, Helga Almeida, Francisco Fonseca e Matias Cardomingo.

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O sociólogo conta que, diferente do que muitos pensam, mais de 60% dos evangélicos estão na faixa dos 14 anos aos 44 anos, um público majoritariamente jovem. “Os evangélicos são com certeza uma das forças sociais mais diversas e complexas no Brasil. E devem ser levados em conta na sua pluralidade e nas suas contradições.”

Movimento religioso novo no Brasil, a igreja evangélica começa no país na virada do século 19 para o século 20, no início do Brasil moderno, da industrialização. “E tem crescido exponencialmente nos últimos 40 anos. Nos anos 1980 chegavam a 3% a 4% da população e na última pesquisa Datafolha estão em 31%”, afirma Rafael. “Qualquer observador que tenta entender o Brasil contemporâneo, precisa enfrentar o tema dos evangélicos.”


Força e diversidade

O professor Rafael explica que o crescimento dos evangélicos na cena pública brasileira não foi somente demográfico, mas qualitativo. E lembra que a segunda maior emissora de TV do país é de um dos líderes da igreja, a Record. Assim como o maior jornal do Brasil em tiragem é a Folha Universal e o gênero gospel já é o segundo mais tocado nas plataformas de música. E, claro, a bancada evangélica. “Comparando o voto por recorte religioso, fica evidente a influência na eleição de Jair Bolsonaro: 70% para Bolsonaro, 30% para Haddad. Quase 10 milhões de votos a mais. Isso é uma novidade no campo político brasileiro: o protagonismo dos evangélicos. É dessa força que a gente está tratando.” 

O grupo, no entanto, não é um bloco monolítico. “Já houve três ondas de expansão que explicam essa diversidade. A primeira é de quando chegaram ao país os missionários, que vinham para pregar. Depois os pentecostais, uma segunda geração que não tem perfil tão escolarizado quanto a primeira, de trabalhadores. E é o principal movimento. Mais místico, mais emotivo, carismático, espontâneo, comunicando o evangelho de pobres para pobres.”

Esse grupo ganha a hegemonia a partir de 1960. “E aí vem uma transformação, nos anos 1980, o neopentecostalismo. Grupos organizados que aprendem técnicas de marketing das mega igrejas americanas e começam a aplicar na realidade brasileira. É quando surgem expoentes como Edir Macedo, da Igreja Universal, a Igreja Renascer em Cristo, com os Hernandes, a Sara Nossa Terra.”

De acordo com o sociólogo, até então ser evangélico era renunciar ao mundo. “Com essa nova geração, o evangélico passa a ser descolado, moderno, com participação de atletas e celebridades.  Ao mesmo tempo, se cria uma lógica empresarial nas igrejas. O neopentecostalismo começa a criar, então, o que chamamos de teologia do domínio, que é um projeto de poder. A religião passa a ser uma porta de entrada para uma nova experiência de comunidade.”


Como pensar junto

Para governar é preciso olhar para esse segmento e Rafael destacou que é preciso levar em conta a importância da igreja para essas pessoas. “Do ponto de vista material tem um papel social estratégico, principalmente nas periferias onde essas igrejas e concentram.” O sociólogo lembra que 58% dos evangélicos são negros, 57% são mulheres e quase 65% ganham até um salario mínimo. “Ou seja, evangélicos são basicamente mulheres negras trabalhadoras informais. A igreja é um dos principais locais de sociabilidade, quando precisa de ajuda. É um centro de acolhida, além de um espaço de fé. É onde consegue ressignificar sua trajetória, um lugar estratégico na periferia.”

E tem p elemento espiritual, uma referência, uma garantia moral. “Num mundo com tantas incertezas, a igreja traz uma certeza moral”, explica Rafael. “Para falar com os evangélicos tem de ter em mente: a igreja importa.”

E se a pauta do aborto é difícil na igreja evangélica, “as de direitos humanos, trabalhistas, o racismo, são temas que podem somar com essa população”, avalia o professor.

Rafael acredita que muito do preconceito em torno dos evangélicos é um preconceito de raça e de classe. “Os evangélicos são a maior religião negra do Brasil, mais até do que as de matriz africana.”

Para dialogar com os evangélicos, afirma Rafael, não pode ser alienígena, vir de fora e querer ensinar política. “Como se elas não tivessem massa crítica sobre o assunto. Há muitas pessoas de esquerda que são evangélicas e o modo mais estratégico é deixar que falem entre si. Um bom caminho é chamar essas pessoas para perto, esse diálogo com quem já está dentro da igreja.” 

Sobre o Gate Papo

O Gate Papo é um programa mensal de entrevistas do Grupo de Acompanhamento de Temas Estratégicos do Instituto Lula. Os convidados tratam de temas que contribuem para o avanço social, político e econômico do Brasil sob a perspectiva popular e democrática.

Veja todos os vídeos do Gate Papo neste link.

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