O incêndio que consumiu o Museu Nacional neste domingo (2), levou parte importante da memória brasileira. Fundado há 200 anos, o museu era a instituição mais antiga em funcionamento no país. Vinculado à UFRJ, o museu sofria com a escassez de recursos e, segundo o reitor da universidade em entrevista ao Estadão, um projeto de recuperação do edifício estava parado desde 2015. Segundo a Folha de S.Paulo, desde 2014 o museu não recebia os R$ 520 mil destinados a sua manutenção anual.

Tanto o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Roberto Leher, como o diretor do Museu Nacional, Alex Kellner, responsabilizaram o governo federal pela falta de recursos para a instituição. Eles disseram que a partir de 2015 foi desenvolvido um projeto de recuperação estrutural do edifício histórico, mas a liberação do dinheiro – cerca de R$ 21 milhões, do BNDES –  só saiu este ano.

O descaso com o museu e com a cultura tem muito a ver com o golpe. Vale lembrar que uma das primeiras medidas do governo Temer foi extinguir o Ministério da Cultura. A situação só tem se agravado pelas restrições orçamentárias impostas às universidades federais nos últimos anos.

Contraste com governos Lula

Durante os governos Lula, a cultura foi prioridade: entre 2001 e 2011, os recursos destinados anualmente aos museus aumentaram em 980%, segundo relatório do Instituto Brasileiro de Museus.

Além do aumento nos investimentos — de R$ 20 milhões para R$ 216 milhões em uma década —, outras políticas importantes foram implementadas pelos governos federais nessa época. Em 2003 Lula lançou a Política Nacional de Museus, um documento que definia os rumos do desenvolvimento, da preservação e revitalização do patrimônio museológico brasileiro. No ano seguinte, o presidente criou o Departamento de Museus e Centros Culturais. Já em 2006, foi implantado o Cadastro Nacional de Museus, ferramenta de mapeamento e estudo dos museus brasileiros.

Em 2009 foi criado o Instituto Brasileiro de Museus, vinculado ao Ministério da Cultura: o setor de museus passou a contar com uma legislação específica, além de maior orçamento para suas demandas e um canal direto de comunicação com o governo. Também a política de fomento e financiamento foi reformulada e ampliada neste período, resultando em um aumento do número de projetos relativos a museus. Ainda, novos cursos de museologia foram abertos pelo país durante os governos Lula.

Essa mudança na maneira de enxergar a cultura, a ciência e a história, reconhecendo a importância dos museus na execução de uma política cultural democrática, está sendo ameaçada pelo abandono do governo federal às políticas sociais e culturais, à pesquisa e à memória brasileira. A tragédia "é um símbolo do descaso do governo atual com a nossa cultura, ciência e patrimônio", lamenta a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Hoje as manchetes escancaram um desastre que apenas reflete o descaso generalizado pela cultura: uma checagem da Agência Lupa revelou que apenas 2 dos 13 programas presidenciais citam a proteção a museus em seus conteúdos.

O Instituto Lula, entendendo a importância do registro histórico para uma nação, lançou em 2015 o Memorial da Democracia, um museu virtual dedicado às lutas do povo brasileiro por justiça social e democracia.