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Mulheres negras são o maior alvo de ódio nas redes

Pesquisador brasileiro da Universidade de Southampton analisou milhares de perfis e páginas de redes sociais brasileiras


Mulheres negras são o maior alvo de ódio nas redes

Foto: Ministério da Cultura/Janine Moraes

As mulheres negras são as principais vítimas de discursos de ódio e intolerância nas redes sociais brasileiras. É o que revela uma tese de doutorado defendida na Universidade de Southampton, na Inglaterra, pelo brasileiro Luiz Valério Trindade.

Trindade analisou 16 mil perfis de usuários do Facebook e 109 páginas da rede social, além de centenas de casos de racismo na internet noticiados entre 2012 e 2016 para chegar aos resultados, que, apesar de alarmantes, não surpreendem.

No Brasil, país de tradição escravocrata e misógina, 81% das vítimas de ataques preconceituosos nas redes sociais são mulheres negras, entre 20 e 35 anos. Entre os agressores, 65% são homens na casa dos 20 anos de idade. 

Além de sexo, cor e idade, as vítimas têm escolaridade: a maioria são médicas, jornalistas, advogadas e engenheiras. Esse dado revela a dificuldade de aceitar a ascensão social da população negra, mesmo que essa se dê de forma tímida e isolada. A imagem do negro - e principalmente da negra - ainda é associada a atividades de baixa qualificação e desprestigiadas.  

O estudo revela, ainda, que a maior parte das manifestações racistas vêm mascaradas de piada. Socialmente aceitas, as “brincadeiras” costumam aparecer como simples forma de divertimento, e o discurso contrário, fruto de uma sociedade cheia de “mimimi”.

Para Tamires Sampaio, advogada e diretora do Instituto Lula, o resultado da pesquisa reflete o fato de que a sociedade brasileira perpetua uma cultura escravocrata, permeada pelo racismo estrutural, que vincula a imagem da população negra, principalmente das mulheres negras, como base da pirâmide social.

A partir dos governos Lula, com as políticas de inclusão social e promoção da igualdade racial, as mulheres negras passaram a ocupar espaços historicamente negados e ter tido acesso à universidade e a profissões de renome, completa Tamires. “Cruzamos a linha”, como disse Viola Davis em seu discurso no Emmy Awards, sendo a primeira mulher negra a receber esse prêmio. Mas ainda precisamos transformar a estrutura social brasileira, e nossa cultura, para que a conquista das mulheres negras, e da população negra em geral, não seja motivo de ataques e sim de reconhecimento.

A falsa ideia disseminada de que o anonimato e as telas servem de blindagem para os criminosos estimula a manutenção dos ataques. Nesse sentido, é necessário aprimorar as políticas de privacidade das redes sociais, e repensar a efetividade e a aplicação da legislação contra os disseminadores de discursos de ódio, além das políticas de promoção da igualdade racial com formação sobre história e cultura afro-brasileira e antidiscriminatórias.


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