Debate sobre a misoginia na política levantou os elementos históricos que constituem o Brasil e a violência contra as trabalhadoras e trabalhadores
10/03/2022 21:03
Debate sobre a misoginia na política levantou os elementos históricos que constituem o Brasil e a violência contra as trabalhadoras e trabalhadores
Em 8 de março, Dia Internacional da Luta das Mulheres, o Instituto Lula promoveu um encontro com a ex-presidenta Dilma Rousseff e a ex-ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário. O tema central do debate, mediado pela diretora do Instituto Lula, Juvandia Moreira, foi a violência de gênero na política. As pesquisadoras Ana Paula Guidolin, Beatrice Weber, Helga Almeida, Luciana Ballestrin, Nadia Garcia, Nilce Aravecchia-Botas, Rosemary Segurado e Waleska Miguel Batista formaram a bancada de entrevistadoras.
Compondo 52,5% da população brasileira, as mulheres ainda têm muita luta pela frente na busca pela equidade social e combate à violência. A ex-presidenta Dilma Rousseff destacou os elementos históricos que constituem o Brasil e as demais sociedades latino-americanas, como o colonialismo, o patriarcado e a escravidão, que explicam a perpetuação do racismo e a misoginia nos dias atuais. “Essa combinação do patriarcalismo, colonialismo e escravidão incide nesse momento em que vivemos, o chamado capitalismo neoliberal, de forma ainda mais perversa”, destacou Dilma.
No Brasil, a desigualdade atinge especialmente as mulheres e a população negra. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD contínua), a taxa de desemprego geral no terceiro trimestre de 2021 foi de 12,4%. Quando segmentada por gênero, temos 10,1% de desemprego para homens e 15,9% para mulheres. Mas se as mulheres são negras essa taxa vai para 18,9%.
A deputada Maria do Rosário ressaltou que o golpe contra a presidenta Dilma teve centralmente uma violência política de gênero. No entanto, não se deu exclusivamente pela condição e identidade de mulher da presidenta. “O uso dessa violência é construído para retirar do poder alguém que tinha um projeto de desenvolvimento de um Brasil soberano, com proteção ambiental, tratando do desenvolvimento do Brasil como direito de todas e todos”, destacou Rosário.
Durante o debate, a partir dos estudos da pesquisadora Perla Aidê da Silva - que analisou mais de 3 mil comentários direcionados à presidenta no período do golpe de 2016 na página oficial do MBL -, foi demonstrado como mulheres que ousam contrariar as normas do patriarcado são taxadas de burras, desonestas, muito duras, histéricas. Não por acaso, a ex-presidenta Dilma trouxe o caso recente em que o então integrante do MBL, Arthur do Val, teve áudio vazado com teor sexista contra as mulheres ucranianas em situação de vulnerabilidade. “Nós vimos o absurdo, se tem uma coisa repugnante é a fala do Arthur ‘Mamãe Falei’ em relação às mulheres ucranianas. Ele é de que grupo? Do MBL, pois bem”, lamentou a presidenta.
Dilma fala sobre a postura do deputado Arthur do Val (Mamãe Falei) e do MBL. Assista o vídeo completo no link ???????? https://t.co/I9efZidpPjpic.twitter.com/juw4TLKfeZ
— Instituto Lula (@inst_lula) March 9, 2022
A despeito de todo o retrocesso trazido pelo governo de Jair Bolsonaro, foram destacados avanços e vitórias importantes. A liberdade e a prova de inocência do ex-presidente Lula é uma delas. Para Dilma, o ano de 2022 será o ano da reconstrução do Brasil. E o papel das mulheres nessa reconstrução será fundamental.