24/02/2021 08:02
O ex-presidente argentino Carlos Menem faleceu no último dia 14, aos 90 anos. Para analisar o legado deixado pelos dez anos de seu governo ultraliberal no vizinho latino-americano, esta edição do Encontros Instituto Lula recebeu Mariana Vazquez, cientista política e professora da Universidade de Buenos Aires.
Mariana apresenta Menem como um “traidor” do peronismo — movimento político com o qual dizia se identificar antes de sua eleição.
À frente da Presidência durante 1989 e 1999, Menem aplicou uma agenda “violentamente” alinhada ao Consenso de Washington, com uma política externa marcada pela cooperação com os Estados Unidos e muito falha no que diz respeito aos direitos humanos, avalia a professora. Em contrapartida, “algumas das principais bandeiras do peronismo são a independência econômica, a soberania política e a justiça social”.
O governo Menem caracteriza um período marcado pelo liberalismo na América Latina — no Brasil, essa década corresponde aos mandatos presidenciais de Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.
Nesse sentido, a onda de privatizações aparece como marca forte dessa orientação econômica, com o agravante, no caso argentino, da venda da petrolífera estratégica Yacimientos Petrolíferos Fiscales, destaca Mariana.
Como no Brasil, também na Argentina foi adotada nessa época uma política de paridade da moeda nacional com o dólar, que se mostrou um verdadeiro fracasso, após um controle momentâneo da inflação.
Mariana Vazquez reforça a importância de analisar a situação argentina a partir de uma perspectiva histórica. Segundo ela, Carlos Menem deu continuidade e aprofundou a política econômica da ditadura militar (1966 - 1973) em seu país. Dentre outros resultados, a destruição da indústria nacional é um legado difícil de superar.
Para a cientista política, trata-se de “uma das décadas mais tristes da história argentina, a pior desde a redemocratização do país” e que, somada à herança de Mauricio Macri, tem consequências vigentes ainda hoje.