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Lula na Argentina: Democracia vencerá no continente


Lula na Argentina: Democracia vencerá no continente

Lula participou nesta sexta-feira (4) da abertura do Proyecto Ballena, promovido pelo Centro Cultural Kirchner. Entre os dias 4 e 6 de dezembro, o evento reunirá lideranças da vida política e cultural latino-americana para desenvolver alternativas que “ajudem a pensar em um presente melhor”.

“É hora de nos perguntarmos da América Latina a que ʽnormalidadeʼ queremos voltar, que compromissos a democracia é capaz de renovar e que alternativas podemos nos oferecer para melhorar as condições de vida dos seres que habitam este planeta”, diz uma publicação oficial do evento.

Assista e leia a fala de Lula:

Meus amigos e minhas amigas. 

Em primeiro lugar, eu gostaria de cumprimentar Tristán Bauer, ministro da Cultura da Argentina e agradecer de coração o convite para este evento do Centro Cultural Kirchner. Cumprimento também meu amigo, o presidente Evo Morales, e também todos os participantes da mesa e quero deixar meu abraço fraterno ao povo argentino.

Afinal, a defesa da democracia na América Latina nos une mais uma vez. 

Meus amigos e minhas amigas. 

Eu a vida inteira sonhei com a possibilidade de a gente construir uma democracia soberana na América Latina. Olhando historicamente a gente percebe que poucas vezes nós vivemos momentos de democracia em que cada país da América Latina pôde livremente decidir o seu destino e decidir o destino de seu povo. Sempre havia uma intromissão estrangeira, seja quando nós éramos colônias e sobretudo no meio do século 20, com a quantidade de golpes que foram dados na América Latina.

Quando nós conseguimos derrubar os golpes, e todos eles foram derrubados com a força e a participação do povo, eu continuei sonhando que era possível a gente construir uma democracia de verdade na América Latina, criar na América Latina um bloco que pudesse pensar economicamente, pudesse pensar politicamente, pudesse pensar também do ponto de vista da nossa soberania. Estabelecer nossas próprias diretrizes para decidir que mundo e que povo que a gente queria ser no futuro. 

E eu acreditei que era possível quando nós tivemos a vitória do Chávez na Venezuela, quando nós tivemos a minha vitória no Brasil, a vitória do Kirchner, a vitória do Rafael Correa, a vitória de Lagos e depois Michelle Bachelet, a vitória do companheiro Evo Morales e tantas outras vitórias. Mantivemos contatos extraordinários com outros países. Eu pessoalmente visitei mais de duas vezes cada país da América Latina e do Caribe porque eu acreditava que era preciso construir um bloco forte, que pudesse fazer frente nas negociações que precisaríamos fazer com os Estados Unidos, com a Europa, com a China, com a Rússia, com a Índia. Ou seja, era preciso que a gente tivesse junto, que a gente tivesse força e que a gente tivesse organizado.

Por isso em 2005, a primeira coisa que nós fizemos – em Mar del Plata – foi derrotar a Alca e dissemos sim ao Mercosul. Fortalecemos o Mercosul. E Fortalecemos o comércio entre Brasil e Argentina, Brasil e Uruguai, Brasil e Paraguai. Trouxemos vários países da América do Sul para participar como sócios do Mercosul. 

Depois eu acho que foi importantíssima a criação da Unasul. A Unasul era um jeito que a gente entendia que era possível fazer uma unidade, criar um bloco na América do Sul.

Depois do fortalecimento do Mercosul, nós criamos a Celac. A única instituição multilateral em que participava Cuba e não participavam Estados Unidos e Canadá. Foi uma coisa extremamente importante. Depois estabelecemos políticas com a África, enquanto Unasul. Depois estabelecemos políticas com os países árabes. 

Ou seja, quando nós estávamos começando a ser levados em conta nas negociações internacionais, quando nós passamos a ser protagonistas nas negociações com o mundo chamado desenvolvido começaram os golpes. Começou a tentativa de desestabilizar os governos progressistas da América Latina. Na Argentina uma forte campanha de destruição da imagem da presidenta Kirchner e muito dinheiro em jogo fez com que os conservadores voltassem ao governo. Graças a Deus agora o nosso companheiro Fernandez desmontou a farsa montada pelos antidemocráticos da Argentina. 

E veio o golpe no Brasil. Todo mundo conhece a história do impeachment. Todo mundo conhece a história da farsa do meu processo, das mentiras contadas, do envolvimento dos Estados Unidos, do Departamento de Justiça para tentar evitar que o Brasil fosse soberano. Para tentar evitar que o Brasil fosse protagonista. Para tentar evitar que a Petrobras se transformasse na [detentora de]  uma das maiores reservas de petróleo do mundo e numa das maiores empresas de petróleo do mundo. Eles não concordaram nunca com a lei da partilha, com a criação da indústria naval nacional, com o fortalecimento da indústria de construção civil, com o acordo da construção do submarino nuclear. Tudo isso eram empecilhos que os Estados Unidos nunca aceitaram. Então fizeram o impeachment da Dilma, evitaram que eu fosse candidato, deram o golpe no Lugo, deram o golpe no Evo Morales – graças a Deus o MAS voltou a governar a Bolívia – e nós estamos agora começando tentando ver se começamos a recuperar país por país. 

No Brasil tem agora a eleição de 2022, eu acho que é plenamente possível que as esquerdas voltem a governar. Rafael Correa não pode ser candidato, mas eu acho que é possível também a oposição ganhar as eleições no Equador. E aos poucos a gente vai tentando conquistar os espaços que foram tomados do povo. Porque a democracia pressupõe o povo governar, pressupõe inclusão social, pressupõe melhorar a educação, melhorar a saúde, melhorar o emprego, melhorar o salário, melhorar a condição de vida das pessoas. Essa é a América Latina com a qual a gente não pode parar nunca de sonhar. Essa América Latina produtiva, essa América Latina democrática, essa América Latina para os latino-americanos é dela que nós não podemos nunca abdicar.

Por isso quando o Centro Kirchner resolve fazer um debate sobre a Democracia na América Latina eu não poderia deixar de falar com vocês. 

Porque eu acho que é possível. A minha experiência política mostra que é possível a gente construir uma democracia soberana e construir entre nós um bloco forte. Um bloco muito forte para negociar politicamente, para negociar economicamente. Para negociar a questão ambiental com o mundo desenvolvido sem nos sentirmos menores. Sem aceitarmos ser tratados como se fôssemos insignificantes ou muito pequenos. Porque só baixa a cabeça quem não sabe o valor da soberania de um continente, de um país ou de uma região.

Por isso meus amigos e minhas amigas, eu continuo acreditando plenamente: haveremos de construir uma América Latina grande, uma América Latina soberana. Uma América Latina unida entre seus países, sem se subordinar a nenhum grupo econômico e muito menos se subordinar aos Estados Unidos da América do Norte, que nunca permitiu que a gente fosse totalmente independente. A interferência, sabe… hora eram os embaixadores, depois eram os militares e agora é o poder judiciário. A indústria da construção de lawfare. Ou seja, através do poder judiciário contar mentiras para condenar alguém, condenar sem provas, porque não precisam de provas. Porque o poder judiciário é uma parte importante – e a gente sabe – desde o que aconteceu em Honduras até o que aconteceu aqui no Brasil. 

Então eu queria que vocês tivessem certeza que podem contar comigo. A luta pela democracia não é uma luta eventual, é uma luta de todo dia. Todo dia, todo dia e toda hora. Cada pedacinho de liberdade que a gente conquistar, é motivo para a gente continuar brigando para conquistar mais, porque a única luta que a gente perde é aquela que a gente não faz, é aquela que a gente não participa. 

E por isso, meus queridos companheiros que estão participando deste seminário, eu quero dizer pra vocês que vale a pena a gente sonhar e lutar para que a gente conquiste a democracia e a soberania definitivamente, para cada país da América Latina e para o conjunto do continente. 

Um abraço, boa sorte e que Deus abençoe vocês.

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