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Dignidade não se negocia, diz Duhalde após visitar Lula

Acompanhado do sociólogo Emir Sader, Eduardo Duhalde garantiu que estará no Brasil quando Lula for libertado


Dignidade não se negocia, diz Duhalde após visitar Lula

Todas as quintas-feiras, Lula recebe a visita de amigos e companheiros de militância / Foto: Joka Madruga

Do Brasil de Fato

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, nesta quinta-feira (18), a visita de Eduardo Duhalde, ex-presidente da Argentina entre 2002 e 2003. Acompanhado do escritor e sociólogo Emir Sader, o argentino denunciou a prisão política de Lula, que já dura 468 dias.

Duhalde é o quinto ex-chefe de Estado a visitar o petista na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR). Já estiveram com o ex-presidente Pepe Mujica (Uruguai), Ernesto Samper (Colômbia), Massimo D’Alema (Itália) e Dilma Rousseff. 

Após o encontro privado, os amigos do ex-presidente visitaram a Vigília Lula Livre para comentar as impressões do diálogo, que durou mais de uma hora e meia, no interior da carceragem. “Eu estarei no Brasil no dia em que ele sair, mas sair do jeito que deve sair um homem de bem, sem negociar a liberdade. A dignidade não se negocia. Essa é a posição do meu querido amigo Lula”, enfatizou Duhalde. 

Os líderes trabalharam juntos durante o primeiro mandato de Lula (2003-2006), que coincidiu com o mandato de Duhalde no país vizinho. Aos 77 anos e emocionado com a visita, o argentino, que antecedeu Néstor Kirchner, destacou as raízes que sempre o uniram com o petista. 

“Eu estou muito feliz. Fui o primeiro presidente argentino surgido do movimento de trabalhadores. Tenho por Lula um especial carinho. É o único amigo fora da Argentina. Trabalhamos juntos, muitos anos, pela integração sul-americana”, informou. 

Por ocasião de uma visita de trabalho de Duhalde em Brasília (DF), em 14 de janeiro de 2003, Lula e o argentino lançaram um comunicado em que indicavam o Mercado Comum do Sul (Mercosul) como um projeto estratégico. Para avançar na direção da integração, os líderes decidiram aprofundar a liberalização dos fluxos de comércio entre os países do bloco e a consolidação da União Aduaneira.

O bloco econômico regional é o mesmo que o atual presidente Jair Bolsonaro (PSL) quer “mais enxuto, dinâmico e sem viés ideológico”, conforme declaração dada nesta quarta-feira (17) na Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, em Santa Fé, na Argentina

Duhalde foi o terceiro presidente a tentar governar o país falido depois da temporada de peronismo neoliberal de Carlos Menem (1989-1999).

No último dia 4, Lula também recebeu outro importante apoio do país vizinho: Alberto Fernández. O favorito à presidência da Argentina, nas eleições de outubro, tem como companheira de chapa a ex-presidenta Cristina Kirchner. 

Duhalde, assim como Sader, apareceu sorridente e entusiasmado após a visita. No entanto, ambos lamentaram as circunstâncias que os levaram até o ex-presidente.

“Emocionante e absurdo, porque quem deveria estar presidindo o Brasil está preso e quem deveria estar preso está presidindo. O Brasil está de cabeça para baixo”, avaliou Sader.

O sociólogo manifestou esperança, mas também indignação com a situação de “um líder de todo o Brasil, para sempre”. Para ele, se trata de um convite para a mobilização popular, também um dos destaques do petista.

“Ele sabe que vai sair e voltar a ser presidente do Brasil. Ele está preparado para isso, informado, analisa e conversa. Agora, é uma brutalidade deixar o Lula preso. A nossa vontade era pegar a mão dele e falar: ‘vamos sair, Lula, seu lugar não é aqui, cercado por esses chacais. Seu lugar é lá fora, na Vigília, com o povo’”, assegurou. 

Sader afirmou que Lula está muito bem, no entanto indignado não apenas com fatores jurídicos que o mantém preso, mas também “com o que estão fazendo com o país”.

“[Ele está] mais maduro, mais reflexivo, tirando lições das experiências nossas e muito preocupado não só com a situação do Brasil, mas com a necessidade de uma resposta mais massiva e sistemática da parte do movimento popular. Como ele disse, esse governo dá, todos os dias, razões para a gente se mobilizar cada vez mais”, avaliou o sociólogo. 

“Hoje eu o vi forte, mais forte do que nunca. Bravo com a situação, mas certo de que sairá para poder liderar seu povo”, completou o advogado argentino.

Preso político desde abril de 2018, Lula tem direito à visita de dois amigos por semana, sempre às quintas-feiras. Nas próximas semanas, ele também deve receber o ex-primeiro-ministro da Espanha, José Zapatero.

Edição: Rodrigo Chagas

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