Mais de 19 milhões de empregos formais, a menor taxa de desemprego de todos os tempos (7,0% em 2014) e aumento real acima de 70% no valor do salário mínimo não deixam dúvidas¹: nunca antes na história deste país os trabalhadores brasileiros tiveram conquistas tão importantes quanto nos governos Lula e Dilma.
Caíram por terra os falsos mitos de que era preciso crescer para depois distribuir, de que os ganhos do salário mínimo inviabilizariam as prefeituras e a Previdência. Com Lula e Dilma, a ampliação de direitos, o crescimento econômico e os ganhos salariais andaram juntos, fazendo parte do mesmo compromisso: construir um país forte – sem pobreza – e para todos os brasileiros.
¹ Sobre o número de empregos formais, taxas de desemprego e salários, os dados utilizados neste texto foram consultados por meio do Programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho, do Ministério do Trabalho
¹ Plano Agrícola e Pecuário 2003 - 2004
¹ Os valores do salário mínimo estão disponibilizados também pelo IPEA
¹ E analisados em estudo do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE)
Os governos de Dilma e Lula ajudaram a derrubar paradigmas criados para justificar a opção histórica dos governantes de privilegiar os mais ricos. A valorização do salário mínimo e os ganhos reais de salários experimentados pelos trabalhadores graças a um desenvolvimento inclusivo permitiu a queda de desigualdades sociais, regionais e raciais. Pela primeira vez na história, a classe C nordestina superou o número de integrantes das classes D e E nesse período².
A geração recorde de empregos e o aumento real dos salários são as principais ferramentas para redução das desigualdades sociais. | Foto: Eduardo Aigner/MDS
As prefeituras menores não quebraram e a Previdência Social também não. Pelo contrário, o crescimento econômico com distribuição de renda gerou um ciclo benéfico para o país como um todo. Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), o aumento do salário mínimo para R$ 880 em 2016 injetou R$ 57 bilhões na economia³.
Milhões de brasileiros que possuíam rendimentos com referência no salário mínimo eram também beneficiários da Previdência. Gente trabalhadora que, durante muitos anos, contribuiu para o país e merecia receber um pouco mais pelos serviços prestados. Foram recursos que entraram diretamente no bolso de brasileiros de todos os municípios do Brasil, dos maiores aos menores, aquecendo as economias locais.
A ascensão social de 44,7 milhões de pessoas à classe C entre 2003 e 2013⁴ repercutiu também na promoção da igualdade racial. Nos governos Lula e Dilma, de cada quatro pessoas atendidas pelo Bolsa Família, três delas eram pardas ou pretas. Na área rural, a classe C dobrou de tamanho, passando de 21% da população para 42%.
² Classe média cresce e deve superar pobres no Nordeste
Camilla Veras Mota, publicado pelo Valor Econômico em 21/07/2014
³ Cálculo do DIEESE
⁴ NERI, Marcelo C. FGV Social: “As Classes Médias Brasileiras” Rio de Janeiro, 2019
1,5 milhão de empregos formais criados anualmente
A média de geração de empregos nos oito anos de PSDB à frente do governo federal foi de 627 mil por ano. Nos 13 anos de governos liderados por Lula e Dilma, de 2003 a 2016, a média ficou na faixa de 1,5 milhão de empregos formais criados anualmente. Ou seja, mais de 2 vezes maior que a média de FHC.
DESTAQUES
Trabalho Formal
Com 19,3 milhões de empregos formais criados em 13 anos de governo, os presidentes Lula e Dilma reduziram a taxa de desemprego no Brasil atingindo a marca histórica de apenas 7% de desemprego em 2014, caracterizando um cenário de quase pleno emprego⁵.
Programas de qualificação, como o Pronatec, garantiram melhores condições de inserção no mercado de trabalho para milhões de brasileiros. | Foto: Ana Nascimento/MDS
Dilma e Lula fizeram suas apostas num desenvolvimento econômico inclusivo: mercado interno de consumo de massa, transferência de renda para as famílias mais pobres, valorização do salário mínimo e aumento dos investimentos públicos. Um modelo bastante distinto daquele que dominou o país nos anos 1990, marcados pelo baixo crescimento, privatizações, flexibilização dos direitos trabalhistas e esvaziamento do emprego formal.
Resultado: sob Lula e Dilma o emprego formal cresceu a uma média anual mais de duas vezes superior à dos anos FHC. Além disso, enquanto os neoliberais destacavam o “custo Brasil” e defendiam formas de contratação “mais modernas”, os governos Dilma e Lula fortaleceram as fiscalizações trabalhistas e o diálogo com os sindicatos.
Em 2003, apenas 39,7% dos trabalhadores brasileiros tinham emprego com carteira assinada no setor privado. Em 2012, eles chegaram a 49,2%. O total de trabalhadores formais no Brasil subiu de 7,3 milhões em 2003 para 11,3 milhões em 2012, um crescimento de 53,6%⁶ no período.
Número de Empregos Formais
Noventa e cinco por cento dos postos de trabalho formais abertos entre 2000 e 2010 beneficiaram a base da pirâmide social brasileira, com remuneração de até 1,5 salário mínimo, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Justamente o grupo social que até então costumava trabalhar sem carteira assinada e, portanto, sem a garantia dos seus direitos trabalhistas, tais como 13º salário, férias remuneradas, adicional de insalubridade, licenças materna e paterna, entre outros.
Esta base da pirâmide é representativa. Nós estamos falando de 24,5% das remunerações do país, segundo dados de 2009 apresentados pelo pesquisador Márcio Pochmann no seu livro ”Nova Classe Média? O trabalho na base da pirâmide social brasileira” (Editora Boitempo). Para cada grupo de dez ocupações abertas na última década a trabalhadores de baixa renda, sete foram de empregos formais e a cada vaga aberta de emprego informal, três outras eram abertas para os trabalhadores de carteira assinada. Metade dos postos de trabalho formais criados na base da pirâmide situam-se nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste.
O boom dos empregos formais na base da pirâmide ajuda a entender as importantes transformações pelas quais a sociedade brasileira passou nos governos Lula e Dilma: ascensão social e redução contínua das desigualdades de renda.
O acerto em estimular o surgimento de um mercado interno de consumo de massa e de investir em setores de alta empregabilidade pode ser constatado pelos segmentos que mais abriram vagas de emprego de 2003 a 2015. Em termos absolutos, nos dois primeiros lugares estiveram os setores de serviços e comércio, seguidos pela indústria de transformação. Já em termos proporcionais, a construção civil foi o setor que mais cresceu nesse período: 7,4% ao ano⁷.
A construção civil foi proporcionalmente o setor que mais gerou empregos na última década, impulsionada pelo programa Minha Casa, Minha Vida. | Foto: Leila Mel /Prefeitura Municipal de Araguaína
As obras de construção de moradias do programa Minha Casa, Minha Vida e de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento tiveram um peso grande na oferta de empregos formais para toda a cadeia da construção civil. O Minha Casa, Minha Vida gerou, até 2015, 2,5 milhões de postos de trabalho na construção de moradias para 10 milhões de brasileiros⁸. No Nordeste e no Norte do país, as duas regiões com menor renda per capita, obras como as da Ferrovia Transnordestina, do Projeto São Francisco, de novas refinarias e siderúrgicas, e das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau impulsionaram o mercado de trabalho, que cresceu em todas as regiões do país.
A ampliação dos empregos com carteira assinada fortaleceu o Regime Geral de Previdência Social (RGPS), que praticamente dobrou sua receita nos governos Dilma e Lula. Em 2015, a Previdência Social arrecadou R$ 520 bilhões, ante R$ 243 bilhões em 2002 (em valores atualizados para 2022), representando um aumento real de 114%.
O fortalecimento da Previdência pública derrubou o mito de que ela caminhava para uma quebra. E a nova política previdenciária e econômica do governo permitia a sustentação da Previdência na área rural.
DESTAQUES
Fortalecimento do Estado
Em 2003, ao tomar posse como presidente da República, Lula definiu que, para construir um Brasil mais justo para todos, era preciso um Estado ativo, que atuasse junto ao cidadão na garantia de seus direitos, que transferisse renda para os mais pobres, ampliasse as oportunidades de ascensão social e investisse em projetos que estimulassem o desenvolvimento econômico.
Ingresso no Serviço Público Federal por Concurso Público – Nível de Escolaridade
Para atender às expectativas do povo brasileiro, o presidente deu um basta no processo de desmonte do Estado – movido até então por privatizações e demissões voluntárias – e decidiu fortalecer a ação governamental nos setores da educação, saúde, gestão e segurança pública. Resultado: em oito anos de governo, 258 mil servidores foram contratados por concurso⁹, mais que o dobro em comparação com o período FHC. Dilma seguiu fortalecendo o Estado brasileiro e em cinco anos contratou por concurso outros 202 mil servidores: 89 mil a mais do que em todo o período 1995 - 2002.
O crescimento no número de servidores públicos representou a dedicação de mais profissionais para atender às demandas da população por serviços públicos de qualidade. Somente na educação, o número de servidores ativos aumentou de 164 mil em 2002 para 290 mil em 2013, um aumento de 76,3%.
O que a oposição chama de inchaço da máquina, os governos Lula e Dilma chamaram de melhoria do atendimento à população e, no caso específico da educação, abertura de oportunidades de inclusão social e econômica para todos os brasileiros: ricos, pobres, brancos, negros, índios, moradores das capitais ou do interior, representando uma revolução na história do país.
O Presidente Lula participou do lançamento da pedra fundamental da UFABC, em 2009, no seu segundo mandato. Novas universidades e extensões abriram milhares de vagas para professores federais. | Foto: Antonio Ledes
Uma revolução que só é possível com mais escolas de ensino fundamental, mais professores, melhores salários, mais escolas técnicas, laboratórios mais bem equipados e mais universidades. Tais ações, mais uma vez interpretadas pelos liberais como “inchaço da máquina”, foram na realidade fruto de planejamento e de decisão política. Foram criadas mais 504 escolas técnicas entre 2003 e 2016, um salto de 140 escolas para 644, além de 18 novas universidades federais em todo o Brasil¹⁰.
Servidores Públicos Federais Ativos na área da Educação
Na Saúde, o programa Mais Médicos possibilitou a contratação, a partir de 2013, de 18 mil novos profissionais. A iniciativa teve grande impacto nas regiões mais pobres do país e nas periferias das grandes cidades. O Mais Médicos foi uma das medidas adotadas para ampliar e melhorar o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) nas regiões onde havia carência de profissionais, com 18.240 vagas para médicos.
Outras medidas adotadas pelos governos do PT para democratizar o acesso à universidade foram a criação de programas como o ProUni, o Reuni, Fies e o sistema de cotas, abrindo as portas das universidades a todos os brasileiros.
As contratações de servidores por concurso para a área de segurança também foram retomadas nos governos Lula e Dilma. Entre 2003 e 2009 houve aumento de 5,4 mil efetivos no quadro da Polícia Federal.
A Polícia Rodoviária Federal foi um dos órgãos públicos que ganharam reforço de pessoal com a contratação de mais servidores
Servidores Ativos e Aposentados do Poder Executivo por ano
Graças à política do governo federal de contratação de servidores públicos, muitos profissionais qualificados puderam ter um emprego e, principalmente, atender à população que mais precisava de serviços. Foi o caso de Otan de Lima Pereira, que nasceu na área indígena Raposa Serra do Sol, no extremo norte de Roraima.
“A saúde da minha comunidade era muito precária. Quase não tinha visita médica, era só enfermeiro”, conta Otan, que resolveu ser médico. “Gostaria de estudar medicina aqui mesmo em Roraima, mas infelizmente não foi possível. No período que eu tentei, em 2002 e 2003, eram apenas 20 vagas para 30 mil candidatos aqui na Universidade Federal de Roraima (UFRR)”, recorda.
Surgiu a chance de estudar medicina na Venezuela. Graças ao programa Mais Médicos, ele se tornou responsável pelos atendimentos das aldeias indígenas de Pedra Branca e Maturuca por cinco anos.
Há muita desinformação e má fé quando se discute a necessidade de fortalecimento das instituições públicas, especialmente daquelas que atendem diretamente o cidadão. Os adeptos do Estado Mínimo são os primeiros a atacar o que chamam de inchaço da máquina pública. Para eles, o Brasil deveria seguir o exemplo dos países do chamado Primeiro Mundo: reduzir pessoal e os custos de manutenção do governo, dando à iniciativa privada a prerrogativa de prestar serviços essenciais à população.
O que eles não dizem é que em muitos dos países mais desenvolvidos do mundo a proporção de servidores públicos em relação à população era maior do que a que existia no Brasil antes dos governos petistas. Estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostrou que, no ano 2000, esta relação era de 5,52 servidores por mil habitantes no Brasil. A Alemanha tinha à mesma época 6,10 servidores por mil habitantes, o México 8,46, os EUA, 9,82 e a Coréia do Sul, 11,75 por mil habitantes¹¹.
Exemplo do modo de agir do propalado "Estado Mínimo" dos neoliberais foi a criação do programa Luz no Campo, em 1999. Pelo programa, as famílias que não dispunham de energia elétrica podiam fazer o pedido de instalação às empresas fornecedoras, mas tinham que pagar pelo serviço. Impossibilitadas de arcar com os altos custos, as famílias pobres do campo continuaram sem luz. Tudo mudou com o programa Luz para Todos, instituído em 2003, no governo Lula. Os custos de instalação ficaram sob responsabilidade do Estado. Resultado: em 13 anos de funcionamento quase 16 milhões de brasileiros conquistaram o acesso à energia elétrica, deram um salto da escuridão do século 19 à cidadania do século 21.
Aumento do número de servidores
O aumento do número de servidores foi feito de forma constante e responsável durante os governos petistas, sem afetar o equilíbrio fiscal do país. De acordo com levantamento realizado pelo IPEA, as despesas com pessoal ativo e inativo das três esferas do governo se mantiveram em patamares estáveis em relação ao PIB.
Despesas da União com Pessoal
Também a massa salarial do serviço público manteve a mesma proporção em relação à massa salarial privada, o que mostra que o crescimento econômico gerado pelos investimentos públicos permitiu o crescimento da economia em geral – bem como das contratações no setor público – no mesmo patamar.
DESTAQUES
Salário Mínimo
Na história do Brasil, sobreviveu por mais tempo do que deveria a ideia de que o aumento real do salário mínimo era um mal para as contas do país. Daí os tímidos reajustes acima da inflação anunciados nos anos 1990, mais como resultado da pressão dos trabalhadores organizados do que do planejamento dos governos. Sob Lula e Dilma, essa visão catastrófica mudou: os aumentos anuais do salário mínimo foram institucionalizados, tornando-se política de Estado. Reivindicação histórica das centrais sindicais, atendida por Lula, a política de valorização do salário mínimo tornou-se uma das principais ferramentas de distribuição de renda e aquecimento do recém criado mercado interno de consumo de massa.
Em 2014, o salário de R$ 724,00 (72,75% de aumento real desde 2002) injetou nada menos do que R$ 28,4 bilhões na economia do país, beneficiando diretamente 48,1 milhões de brasileiros que tinham o salário mínimo como referência de seus rendimentos: 21,4 milhões de beneficiários da Previdência Social, 14,3 milhões de trabalhadores assalariados, 8 milhões de autônomos e 4,2 milhões de trabalhadores domésticos. Gente que consumiu e investiu mais, e com isso fez a roda da economia girar, o que garantiu mais empregos e mais renda, num círculo virtuoso que beneficiou todos os brasileiros.
Evolução do salário mínimo
Impacto do aumento de R$ 46 no salário mínimo de 2014
Os incrementos de R$ 28,4 bilhões na economia e de R$ 13,8 bilhões na arrecadação de tributos mostram que os ganhos com o aumento do salário mínimo foram bem mais expressivos para a sociedade do que os supostos custos gerados para a Previdência Social, de R$ 12,8 bilhões. Previdência que, aliás, não quebrou como preconizavam os adeptos do Estado Mínimo.
Impacto do aumento do salário mínimo na Previdência
O aumento real de 72,75% do salário mínimo não só recompôs as perdas sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras durante a década perdida de 1980 e o período neoliberal dos anos 1990 – marcado por baixo crescimento e pelas privatizações –, como garantiu a esses o maior poder de compra desde décadas. Considerando a cesta básica mais cara em valores de janeiro de 2014 (R$ 327,13), conforme cálculo do DIEESE, o trabalhador passou a ter naquele período um poder de compra equivalente a 2,21 cestas básicas – a melhor relação salário mínimo/cesta básica registrada nas médias anuais desde 1979 até aquele ano.
Quantidade de Cestas Básicas adquiridas pelo salário-mínimo
No estudo A Década Inclusiva (2001-2011): Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda¹², o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) analisando dados captados pela PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), produziu um ranking indicando a origem da renda das famílias brasileiras na primeira década dos anos 2000: Trabalho (58%), Previdência (19%), Bolsa Família (13%), Benefício de Prestação Continuada (4%), Outras, como aluguéis e juros, (6%). Os dados mostram que parte expressiva da queda da desigualdade se deveu à força da expansão do mercado de trabalho e do aumento do salário mínimo (95% da vagas criadas naquela década foram para trabalhadores que recebiam até 1,5 salário mínimo), o que, segundo os pesquisadores, conferiu sustentabilidade ao processo redistributivo assumido. “Sem as políticas redistributivas patrocinadas pelo Estado brasileiro, a desigualdade teria caído 36% menos na década”, afirma o documento.
Distribuição % dos ocupados, por faixa de rendimento em todos os trabalhos. Brasil e Grandes Regiões – 2012
Além de impactar poderosamente sobre a redução da desigualdade de renda entre ricos e pobres, o aumento real contínuo do salário mínimo também foi uma ferramenta de redução das desigualdades regionais. As regiões menos desenvolvidas do país, Norte e Nordeste, eram aquelas onde havia maior número de trabalhadores com rendimentos vinculados ao mínimo: 58,2% no Nordeste e 44,2% no Norte no período.
Aumentos Reais do Salário Mínimo em % (2013 - 2014)
No início do segundo mandato do governo Lula, em 2007, o governo e as centrais sindicais se puseram de acordo em torno daquela que ficou conhecida como a Política de Valorização do Salário Mínimo: o salário mínimo seria reajustado a cada ano com base na variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano retrasado (no caso de 2014, se levava em conta o PIB de 2012), somada à inflação acumulada do ano anterior medida pelo Índice Nacional de Preços do Consumidor (INPC). No governo Dilma, em 2011, aprovada pelo Congresso Nacional, a política virou a Lei n° 12.382, com vigência até 2015.
A valorização constante do salário mínimo pelos governos Lula e Dilma fez com que o Brasil fosse destaque em relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho). O texto relatava a experiência brasileira e seu impacto positivo no desenvolvimento socioeconômico do país. Iniciativa distinta daquela tomada por países europeus, como a Espanha, Portugal e a Grécia, no enfrentamento da crise da economia global, onde o crescimento do desemprego tinha sido acompanhado da redução dos direitos trabalhistas e sociais.
Relatório da Organização Internacional do Trabalho lançado em 2013, Reparando o tecido econômico e social¹³, aponta a importância de um sistema amplo de cobertura do salário mínimo e de uma política adequada de estabelecimento do nível desse salário como parte dos esforços para ampliar a proteção social. Além disso, num cenário em que há menor demanda de países mais desenvolvidos, os ganhos do salário mínimo ajudam a estimular a demanda doméstica.
Ganhos salariais
Não foram apenas os trabalhadores que recebiam o salário mínimo que obtiveram ganhos reais sob Lula e Dilma. No primeiro semestre de 2013, 84,5% das negociações salariais de mais de 300 categorias resultaram em aumentos acima da inflação, segundo análise do Sistema de Acompanhamento de Salários (SAS-DIEESE)¹⁴. Outras 7,0% tiveram garantidas a reposição da inflação, portanto, mantiveram preservado o poder de compra de seus rendimentos nesse período.
Entre os trabalhadores da indústria, 85,2% das categorias obtiveram reajuste acima da inflação no primeiro semestre de 2013. Entre os trabalhadores do comércio, 97,8% das negociações resultaram em reajustes acima da inflação e, no setor de serviços, 79,4% das categorias conquistaram aumentos reais.
Distribuições de Reajustes Salariais, em comparação com INPC-IBGE, Brasil (2008-2013)
O ganho salarial não traz efeitos positivos apenas para os milhões de trabalhadores que tiveram reajustes. Os recursos que entram no bolso das trabalhadoras e trabalhadores alimentam o consumo e fazem girar a roda da economia do país.
Com esses reajustes contínuos de salários na primeira década dos anos 2000, a massa salarial do brasileiro tinha aumentado sua participação relativa no PIB (Produto Interno Bruto). Ou seja, o salário recebido pelos trabalhadores tinha um peso maior na produção de riquezas do país. Após uma curva descendente a partir do início do governo FHC, a relação salário/PIB voltou a crescer nos governos Lula e Dilma, saindo de 46,26% em 2003 para 51,40% em 2009, incluindo as contribuições sociais dos trabalhadores e excluindo a remuneração de autônomos.
Participação dos Salários no PIB
É interessante destacar que a maior parte do crescimento econômico brasileiro entre 2003 e 2014 (cerca de 75%) deveu-se ao aumento de pessoal ocupado e 25% a ganhos de produtividade – o que demonstra, por um lado, a extraordinária força da recuperação dos salários no país e, por outro, o potencial que a economia e o mundo do trabalho têm para crescer por meio de investimentos em inovação, tecnologia e qualificação de pessoal. Os governos Lula e Dilma investiram decisivamente na ampliação da rede de escolas técnicas federais, em parcerias público-privadas para qualificação de milhões de jovens por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e na expansão e interiorização das universidades públicas federais.
Evolução em Rendimento Real dos Empregados Formais
DESTAQUES
A nova classe trabalhadora
Uma ida aos aeroportos e shoppings centers era suficiente para perceber a transformação social pela qual o Brasil passou nos governos Lula e Dilma. Durante muito tempo viajar de avião e fazer compras em lojas de marca era um privilégio restrito às classes A e B. Nos governos progressistas fez parte do cardápio de consumo da nova classe C, fruto da estabilidade no emprego e da melhoria dos salários. Os números impressionam. A classe C brasileira chegou a somar 104 milhões de pessoas e representou 52% do total dos brasileiros, segundo dados Serasa Experian e do Instituto Data Popular¹⁵. Fosse um país, seria o 12° do mundo em população – à frente da Alemanha, do Irã e da Turquia – e o 18° em consumo, à frente da Holanda ou a Suíça. Em 2013, injetou mais de R$ 1,17 trilhão na economia brasileira.
A ascensão social de milhões de brasileiros fez vir à tona o preconceito de setores minoritários da sociedade que se sentiam incomodados em dividir os espaços que, antes, eram cativos de uma certa elite, com os trabalhadores brasileiros em ascensão social naquele momento: porteiros, manicures, operários da construção civil, motoboys, mecânicos, comerciários, aposentados.
O aeroporto foi um espaço público emblemático daquele momento. Se em dezembro de 2004, o total de passageiros pagantes em voos domésticos era de 2,6 milhões, este número triplicou em dezembro de 2013, atingindo a marca de 8,2 milhões de passageiros. Certamente muitos deles fizeram o primeiro voo de suas vidas, mas não o último. Nas palavras do economista João Sicsú: “Gente que migrou para o Sudeste de ônibus e hoje volta ao Nordeste para visitar seus parentes de avião” nesse período.
Triplica o número de passageiros em voos domésticos (meses de dezembro, em milhões)
Mais oportunidades de trabalho e maiores salários beneficiaram segmentos da sociedade brasileira historicamente marginalizados: negros, nordestinos, trabalhadores rurais. De cada 100 pessoas que ingressaram na classe C entre 2002 e 2012, 75 eram negras ou pardas – ou seja, três em cada quatro pessoas. No Nordeste, a classe C cresceu de 22% para 42% do total da população, segundo dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República no estudo Vozes da Classe Média.
Na área rural os avanços também foram impressionantes: a classe C dobrou, passando de 21% da população para 42%. As políticas econômica e social dos governos Lula e Dilma, portanto, contribuíram também para a redução das desigualdades entre o campo e a cidade.
Crescimento da Nova Classe C
42 milhões de brasileiros ascenderam à classe C na primeira década dos anos 2000
A população da Argentina era de cerca de 41 milhões de pessoas e a da Colômbia em torno de 47 milhões. Esses números nos ajudam a compreender a dimensão das transformações verificadas no Brasil durante aquele período. Durante os governos de Lula e Dilma, 42 milhões de brasileiros ascenderam à classe C, quase uma Colômbia inteira e mais do que toda a Argentina.
O caminho da oportunidade se abriu para milhões de jovens nos governos Lula e Dilma por meio de mais vagas no ensino fundamental e médio, nas universidade públicas e privadas e nas escolas técnicas. Pesquisa do instituto Data Popular de 2013 indicava que 68% dos jovens da classe C haviam tido mais anos de estudo do que seus pais, enquanto isso é verdade para apenas 10% da classe A.
Nas palavras de Renato Meireles, sócio-diretor do Data Popular à época da divulgação do estudo: “Se as profissões paternas predominantes eram constituídas por trabalhos braçais, domésticos e de pedreiros, as profissões desses descendentes, na sua maioria, estão centradas na área de vendas, que exige um aprendizado maior, conquistado com o ingresso dos jovens nas universidades. Os jovens mais bem preparados são o retrato da evolução das classes emergentes”.
Para cada R$ 100,00 que os pais da classe C ganhavam, o filho ganhava outros R$ 53,00. Isso repercutia no poder de consumo desses jovens (entre 18 e 35 anos), que chegava a R$ 129,9 bilhões, de acordo os dados levantados pelo Data Popular. Esse valor representava mais que a soma dos jovens das classes alta e baixa juntas, que possuíam, respectivamente, R$ 80 bilhões e R$ 19,9 bilhões. A constatação foi feita no estudo O rolezinho e os jovens da classe média.
Outra pesquisa feita pelo instituto Data Popular, em parceria com a Central Única das Favelas (CUFA), com dois mil moradores de 63 favelas brasileiras mostrava que a classe C havia dobrado de tamanho nessas comunidades na última década, a exemplo do crescimento que aconteceu no país como um todo. A média salarial era de R$ 910,00. A melhora do emprego e da renda impulsionou o consumo: metade das casas passaram a ter TV de plasma ou de LCD, computador e micro-ondas. 99% dos moradores tinham geladeira, 91%, ferro de passar roupa, 20% tinham carro e 13% moto.
A renda anual dos 11,7 milhões de brasileiros que viviam em favelas – população maior do que a do Rio Grande do Sul, o quinto estado mais populoso da federação – era estimada em R$ 63,2 bilhões (o equivalente à soma total de consumo das famílias do Paraguai e Bolívia).
Os dados mostravam que 59% dos habitantes de favelas não tinham conta corrente e 65% não possuíam cartão de crédito. A pesquisa apontava que de 2003 para 2013, havia aumentado ligeiramente o percentual dos moradores de favelas acima de 10 anos inseridos no mercado de trabalho, que foi de 49% para 54%.