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Ex-ministros da Saúde defendem vacinação de crianças

Além da vacinação, o grupo defende uma política massiva de distribuição de máscaras, ampliação da testagem, investimento em pesquisa e reconstrução do complexo econômico-industrial da saúde


Ex-ministros da Saúde defendem vacinação de crianças

Foto: Ricardo Stuckert

Por lula.com.br

Em encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na manhã desta terça-feira, 18, ex-ministros da Saúde defenderam a adoção de uma política efetiva de vacinação no Brasil que inclua as crianças com menos de cinco anos, que são maioria entre internados nos países mais atingidos pela variante Ômicron.

Para os ex-ministros, é preciso reconstruir a gestão do Ministério da Saúde, destruída no governo Bolsonaro. Eles criticaram o governo federal pela demora no início da vacinação de crianças, quando o mundo já sabia que os menores eram mais vulneráveis à nova variante. Segundo o ex-ministro Arthur Chioro é fundamental conscientizar a população sobre a importância da vacinação para crianças e adolescentes e o perfil diferente da variante Ômicron.

“Muitos pais, mães, avós, olham para o período anterior da pandemia, no qual as crianças não foram de fato contaminadas nem na velocidade nem na extensão que estão sendo agora. Essa variante afeta fundamentalmente e de maneira diferenciada menores de 18 anos, isso não era uma característica que estava presente nas variantes anteriores. É criminosa a postura do ministro da saúde em retardar a vacinação de crianças. É uma indústria de fake news de jaleco”, disse o ex-ministro Arthur Chioro.

Para presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, as crianças estão sendo duramente atingidas e o governo Bolsonaro irresponsável.  “Se a gente olhar o que está acontecendo nos outros países, o público mais vulnerável são as crianças. Se nós não anteciparmos o processo de vacinação, nós vamos expor nossas crianças desnecessariamente”.

Já para a presidente do PT, Gleisi Hoffman, o presidente Bolsonaro é aliado do vírus. “O tempo inteiro ele foi aquele que incentivou a proliferação da Covid-19, foi contra a vacinação e desdenhou da dor da população”.

Além da vacinação, o grupo de ex-ministro reunidos na Fundação Perseu Abramo defendeu uma política massiva de distribuição de máscaras, ampliação da testagem, investigação da doença, fortalecimento do SUS e investimento em pesquisa envolvendo institutos, universidades, uma política de comunicação, com informação segura e transparente e um conjunto de medidas como reconstrução da política do complexo econômico-industrial da saúde.

A falta dessa política, segundo Chioro, gerou problemas como falta de máscaras, de testes, de oxigênio e respiradores, assim como medicamentos para indução do processo de intubação. “É uma vergonha, mas desde 2016 com o golpe, foram destruindo nossa política do complexo econômico industrial da saúde”.

Grupo de Trabalho

O presidente da Fundação Perseu Abramo afirmou que a instituição está montando um grupo de trabalho para discutir políticas de fortalecimento da indústria da saúde. Para ele, o Brasil tem uma janela de oportunidades nessa área porque a demanda é grande nos Estados Unidos e na Europa. “Já estamos desenhando uma proposta de como o Brasil pode ocupar essa janela de oportunidade e reduzir a dependência”. De acordo com Mercadante, o Brasil tem deficit comercial de US$ 16 bilhões nessa área. “Vamos precisar de mais pesquisa, ciência, tecnologia e educação”.

Além da reconstrução da gestão do Ministério da Saúde, o grupo defende a reconstrução da gestão interfederativa do SUS e o fortalecimento do sistema para dar respostas para casos de Covid, assim como de transtornos mentais agravados pela pandemia, além do conjunto de problemas que ficaram represados, como as cirurgias eletivas e tratamento de câncer, por causa da pandemia.

De acordo com Chioro, também é fundamental preencher uma lacuna existente hoje e reconstituir na esfera do Estado brasileiro um Centro Nacional de Controle de Doenças e Emergência Sanitária que lide com o monitoramento das novas doenças e de genoma e que apoie os governos municipais e estaduais e o Ministério da Saúde na definição de protocolos.

Grupo de debate de políticas públicas

O grupo que participou do encontro se reúne com frequência para debater políticas públicas voltadas para a Saúde. Participaram o encontro nesta terça-feira a presidente Gleisi Hoffmann, Aloizio Mercadante, e os ministros:  Humberto Costa (2003/2005), José Saraiva Felipe (2005/2006), Jose Agenor Álvares da Silva (2006/2007), José Gomes Temporão (2007/2010) e Alexandre Padilha (2011/2014), além de Arthur Chioro (2014/2015).

Também estavam presentes dois ex-integrantes da Anvisa, o ex-presidente Dirceu Barbano e o ex-diretor Ivo Buareski, e dois ex-integrantes da Agência Nacional de Saúde (ANS), o ex-presidente Fausto Pereira dos Santos e o ex-diretor André Longo, atual secretário de Saúde de Pernambuco.

Segundo Chioro, o Brasil também precisa retomar o papel estratégico no cenário internacional, sanitário, econômico, social e político, que possa ajudar o mundo a encontrar respostas para deter a situação viral e diminuir o risco de novas variantes. “Já fizemos isso em outros momentos de saúde global. Hoje, o Brasil se tornou um pária”.

Ele lembrou que 67 milhões de brasileiros ainda são suscetíveis, entre eles crianças não vacinadas e adultos que só tomaram uma única dose – isso é toda população da Argentina, do Chile e do Uruguai.

A variante Ômicron

A variante Ômicron, predominante hoje no Brasil e no mundo, se apresenta quase como uma nova doença, uma espécie de Covid 2.0, cujas características são carga viral muito alta, potencial infeccioso maior, período de incubação mais curto, período de transmissão menor, sintomas parecidos com doenças virais infecciosas agudas e que afeta fundamentalmente e de maneira diferenciada menores de 18 anos.

“É um fenômeno que não tínhamos com relação a outras variantes, ainda que ela produza apenas 1% de casos com maior gravidade”, disse o ex-ministro, acrescentado que 90% dos óbitos ou de casos de UTI são de pessoas não vacinadas ou apenas com uma dose da vacina. 

“O que nos preocupa é o fato da desigualdade da oferta de vacinação na escala planetária. Os países de baixa renda têm apenas 9,5% da população recebeu pelo menos uma dose, que cria um ambiente de vulnerabilidade para produção de novas variantes”, disse Chioro.

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