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Gabrielli: Mudanças no setor de Petróleo: Novo Papel da Petrobras

Ex-presidente da Petrobras assina nono texto da série "Brasil de Amanhã", do coletivo de economistas do Instituto Lula


Gabrielli: Mudanças no setor de Petróleo: Novo Papel da Petrobras

P-51, a primeira plataforma 100% brasileira. Foto: Agência Brasil

José Sergio Gabrielli de Azevedo¹
Professor titular aposentado da UFBA, ex-presidente da Petrobras 2005–2012.
Para a série Brasil de Amanhã, do Instituto Lula 

1. Introdução

Apesar das confusões apresentadas pelo noticiário, todos concordam que os próximos anos são vitais para o futuro da Petrobras. A atual direção da companhia definiu como metas para estes anos a redução da dívida e a melhoria dos indicadores financeiros, mesmo que às custas de uma grande desintegração do complexo produtivo — que vai do poço ao poste² — e da concentração de suas atividades na exploração e produção das áreas do pré sal.

A empresa vem batendo sucessivos recordes de produção, ainda que a Bacia de Campos continue declinando, enquanto os campos do pré-sal já correspondem a mais de metade do produto nacional. A política de refino está reduzindo a utilização da capacidade das refinarias e os processos de vendas de ativos se intensificam, desmontando a empresa integrada que existia. Tudo isso ocorre em um momento em que as expectativas de queda dos preços são menores e crescem as previsões de retomada da sua elevação, depois dos acordos e contenção de produção entre a OPEP e a Rússia.

Desta forma, apesar da confusão do noticiário, os problemas financeiros de curto prazo da Petrobras não decorreram da corrupção. Condições de mercado e ajustes contábeis a mudanças de expectativas futuras são muito mais responsáveis pela redução dos lucros do que os efeitos da corrupção.

É preciso também considerar que o marco regulatório e o ambiente econômico em que a empresa vai atuar estão passando por profundas mudanças. O setor receberá novas empresas internacionais, intensificará a importação de equipamentos e serviços para desenvolver os campos descobertos e a possibilidade de uma política industrial centrada na expansão da produção desta riqueza do subsolo se esvai. A oferta de derivados depende cada vez mais das importações.

Alguns argumentam que as mudanças que se passam na Petrobras não são específicas da empresa, mas refletem os processos típicos de “financeirização” das empresas produtivas com uma maior atenção ao pagamento de dividendos, redução da taxa de investimentos e focalização no chamado core business, sempre buscando resultados de curto prazo³.

No caso brasileiro, a literatura chama a atenção para o papel das altas taxas de juros como elemento importante na dinâmica de financeirização da macroeconomia do pais, ao mesmo tempo em que caracteriza os mercados financeiros como um subconjunto do sistema de poder que afeta a dinâmica de produção e distribuição da renda⁴.

No Brasil, o curto experimento de politicas macroeconômicas de enfrentamento do rentismo financeiro, do início da segunda década deste século, com baixa da taxa de juros e utilização dos bancos públicos para reduzir os spreads bancários, na expectativa de que o investimento produtivo privado substituiria o investimento produtivo das estatais, não prosperou, entre outras coisas, pela financeirização das empresas não financeiras no pais.

A crescente participação dos ganhos financeiros na origem dos fundos das empresas brasileiras tornava mais difícil a escolha preferencial pelos investimentos produtivos, mesmo com taxas de juros mais baixas, uma vez que os estoques acumulados de investimentos financeiros perdiam capacidade de geração de fluxos de finanças para estas empresas.

Este trabalho se organiza em mais três seções e uma conclusão. Na próxima se destacam algumas especificidades das relações entre o capital financeiro e os investimentos produtivos na indústria do petróleo no mundo, com a seção seguinte abordando de forma particular a situação da Petrobras. Na quarta seção há uma tentativa de sistematização das mudanças de políticas que estão ocorrendo depois das mudanças recentes do Governo, tanto em relação a exploração e produção, como o refino e o conteúdo nacional. Nas conclusões são apresentadas algumas diretrizes gerais para uma política alternativa.


Leia o artigo completo na página do Brasil de Amanhã, do coletivo de economistas do Instituto Lula.


Notas de referência

¹ Professor titular aposentado da UFBA, ex-presidente da Petrobras 2005–2012.

² O slogan publicitário refere-se a empresa do poço produtor ao posto distribuidor de derivados. Com a expansão da geração de eletricidade a partir do gás natural, o limite se estende ao poste de distribuição dos elétrons.

³ Agradeço aos comentários do Ricardo Carneiro, em seminário interno no Instituto Lula/Fundação Perseu Abramo em 22/09/2017.

 (Silva,2011, p. 730.)

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