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Instituto Lula lança primeiro indicador digital do Brasil

Ibesd analisa evolução da economia digital oferecendo subsídios a políticas públicas que alterem a forma desigual como se desenvolve em todo território brasileiro. Assista reportagem exclusiva da TVT


Instituto Lula lança primeiro indicador digital do Brasil

Reprodução

Ibesd analisa evolução da economia digital oferecendo subsídios a políticas públicas que alterem a forma desigual como se desenvolve em todo território brasileiro. Assista reportagem exclusiva da TVT

Num país onde a desigualdade social é imensa, a economia digital se desenvolve também de forma desigual na sociedade. Mensurar e acompanhar como isso se dá, no entanto, é a melhor forma de atuar no sentido de alterar esse quadro de desigualdade que agrava a injustiça social no Brasil. E é isso que o Instituto Lula quer fazer com o Ibesd, Índice Brasileiro de Economia e Sociedade Digitais.

O pesquisador do Instituto Lula Ronnie Aldrin Silva falou com exclusividade à TVT, a TV dos Trabalhadores, sobre o índice recém-lançado. E comentou, em reportagem que foi ao ar na sexta-feira (22), alguns dados do indicador. O estudo aponta, por exemplo, que São Paulo, apesar de figurar com campeão do índice geral, é o segundo pior estado em desigualdade entre homens e mulheres no ramo da tecnologia. “Ou seja, as mulheres de São Paulo, que trabalham na área de tecnologia, ganham pior do que em todos os estados brasileiros exceto o Amazonas. Sergipe, por outro lado, é um dos estados que tem a melhor igualdade entre homem e mulher. E o Amazonas, apesar de ter a Zona Franca de Manaus, é o pior em infraestrutura”, relata o cientista de dados Ronnie Aldrin, coordenador e desenvolvedor do Ibesd. Enquanto as mulheres ganham 63,4% do que os homens ganham no Amazonas, em São Paulo essa proporção é 67%. Em mercados de trabalho onde esse tipo de profissional rareia, a renda das mulheres chega a ser superior à dos homens. Em Roraima, chega a 103,4% e, em Sergipe, 104,1%.


Em tempos de pandemia da covid-19, o Distrito Federal se destaca com 60% dos domicílios com estrutura para realizar trabalho em home office. Outros estados que se destacam positivamente têm 46%, como São Paulo e Santa Catarina. Ao passo que estados como Maranhão e Pará possuem menos de 20% ou 1/3 do que possui o DF.

Um dado aponta a grande dependência brasileira da tecnologia que vem do exterior e evidencia o que foi desmontado da indústria de tecnologia nacional. O indicador que aborda a participação do valor das exportações no valor da importação mostra um país extremamente importador de tecnologia e quase nada exportador. O Rio Grande do Sul, por exemplo, exporta o valor correspondente a quase 26% do valor que ele importa. E essa é a melhor situação do país. São Paulo é o segundo e exporta 8,37% do montante que importa. “Outros estados tem percentual inferior a 1%. Uma situação bem vulnerável”, classifica Ronnie.

Políticas públicas

A partir dos dados do Ibesd, políticas públicas podem e devem ser desenvolvidas para alterar esse quadro de desigualdade que agrava a injustiça social. Afinal, destaca Ronnie Aldrin, esse é um dos principais desafios: que o Brasil faça uso efetivo e valorize essas informações para que sejam colocadas em prática como foi feito em outros lugares. “Na China, por exemplo, esse índice é de extremo valor e foi feita uma política de orientação e desenvolvimento da economia digital baseada nesse índice. Eles colocaram uma meta de evolução do índice para cada região. Isso fez com que todas se desenvolvessem e inclusive reduzissem sua desigualdade”, relata. “Para isso, é necessário uma política de Estado orientadora para o desenvolvimento da economia e sociedade digitais. Ou pelo menos estimulantes. Nós não temos nenhuma dessas duas coisas no Brasil”, lamenta.

É o que reforça Sérgio Bianchini, coordenador do projeto Velhas e Novas Desigualdades na Era Digital , do IL. “A gente não pode esperar que um país se desenvolva nessa área se não tiver uma presença muito forte do Estado fomentando esse desenvolvimento do processo de produção de tecnologia dentro do país.” 

Mostra disso é que a entrada da era digital no Brasil não alterou o quadro de desigualdade. “Os segmentos sociais que têm uma questão desigual continuam na mesma situação nesse processo de digitalização”, avalia Bianchini.

Dimensões do estudo

O Ibesd aborda quatro dimensões: acúmulo de competências; infraestrutura; setor privado; setor público. Dentro de cada uma delas, subdimensões e indicadores que traçam um retrato desse Brasil digital e lançam um desafio: o uso efetivo desses dados para que sejam colocadas em prática políticas públicas que alterem esse quadro de desigualdade.

O Ibesd tem como base quatro outros índices – um chinês, dois norte-americanos e um europeu –, mas totalmente adaptados aos dados e à realidade brasileiros. Esses quatro índices foram construídos pra um período e depois buscaram os mesmos dados para o passado, para analisar a evolução. “Assim, é possível ver um caminhar da economia e sociedade digitais nesses países”, avalia Ronnie Aldrin.

Outros destaques

A proporção de pessoas com habilidades em tecnologia da informação (TI), que já lidam bem tecnologia da informação com influência inclusive no mercado de trabalho para empregabilidade é maior em estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Goiás. O menor índice está no Maranhão.  

Outro é a população efetivamente com conhecimentos digitais avançados. São profissionais de TI ou pessoas que estão entrando no mercado de TI. “E o destaque é SP, que possui número de especialistas muito maior que os outros estados. Mas também tem uma diferença: se comparar MG e PR, apesar de Minas ser bem mais populoso, o número de especialistas na área, no Paraná, é numericamente 50% maior e proporcionalmente bem maior. Temos cerca de 40 mil pessoas com conhecimento avançado em MG e no PR 65 mil.”

Na segunda subdimensão, que trata da integração do conhecimento, vale o destaque para a proporção de trabalhadores no setor de TI. Ele mensura a proporção de ocupados no setor, proporcionalmente ao mercado de trabalho. “Se destacam em primeiro o AM, onde 5,4% do total de ocupados são da área de TI, e na sequência SP, com 5,3%. A surpresa é o Amazonas, mas explicável por conta da Zona Franca de Manaus. Por outro lado, em RR ou no AC essa proporção é inferior a 2%.”

Trabalho remoto

O pesquisador destaca, ainda, uma questão nova. “Um novo olhar para esse mercado e a realidade de covid é o indicador que trata da estrutura para home office. E também se percebe uma grande desigualdade no território nacional com o Distrito Federal se destacando com 60% dos domicílios com estrutura para realizar home office. E outros estados que se destacam positivamente têm 46%, como SP e SC. Ao passo que estados como MA e PA possuem menos de 20% ou 1/3 do que possui o DF.”

O potencial para o trabalho remoto é outro indicador, nesse caso, oriundo de um estudo do Ipea que analisou a proporção de ocupações passíveis de serem exercidas de forma remota. “E aí também vemos uma grande disparidade com o DF com 31,6% e RJ e SP com proporção acima de 25%. Estados como PI e PA e RO possuem proporção bem inferior a 20%.”

Desigualdades

A subdimensão que trata das desigualdades é um grande diferencial do Ibesd, conta Ronnie. “Vale o destaque para o primeiro indicador que é renda dos trabalhadores do setor de TI. E vemos que em estados com grande mercado de trabalho as mulheres ganham proporcionalmente menos. No AM elas ganham 63,4% do que os homens ganham, em SP essa proporção é 67%. Em mercados de trabalho onde esse tipo de profissional rareia, a renda das mulheres chega a ser superior à dos homens. Em RR, chega a 103,4% e, em SE, 104,1%.”

 Outro indicador interessante, avalia o pesquisador, é o acesso à internet rápida e a proporção de negros, indígenas e população de baixa renda que conseguem acessar a internet rápida, seja banda larga, 4G. “Mais de 90% dessa população dos estados do DF e SP felizmente conseguem acessar. Muitos pelo celular, estudos indicam. Por outro lado, estados de MA e PI possuem menos de 70% dessa população que conseguem esse acesso.”

A relação dos idosos com TI, ou a proporção deles que fazem uso da internet, também faz parte do estudo. “No RJ, SP e DF tem mais de 50% a 70%. Já no MA, PI, PB pouco mais de 20% fizeram acesso.”

Destaque, também, para o indicador que traz um olhar sobre as sociedades rural e urbano na acesso à internet. “No AM, a população do meio urbano é 3,6 vezes maior do que a população do meio rural. Ou seja, quem está na zona urbana tem o triplo de vezes mais fácil de acessar a internet do que quem está no meio rural. Por outro lado, estados como MS e o DF possuem uma diferença muito pequena. Quem está no meio urbano utilizou a internet 1,2 vezes mais do que quem está no meio rural.”

Infraestrutura de tecnologia

Sobre o acesso à internet via banda larga (total de acessos por 100 habitantes), SC tem um destaque em relação aos demais estados. “São 85,4 acessos por 100 habitantes. E também se posicionam bem SP, PR e DF. Outros estados possuem taxa muito baixa: AL com 22,9 MA com 20,9, isso é um quarto da proporção do total de acessos dos habitantes de SC.”

Quando o olhar se volta para a rede móvel, percebe-se a mesma desigualdade com a proporção de localidades atendidas pela rede móvel 4G. “Ao invés de olhar o município, olhamos as localidades. As operadoras atendem regiões centrais e conforme se distancia não há cobertura. Por isso optei por essa metodologia. A fonte é a Anatel”, explica Ronnie. “No DF, 93% das localidades são atendidas por 4G, assim como em SP, que são 93,5%. É uma proporção alta, mas é interessante se atentar que 7% das localidades, mesmo nesses dois estados ‘top’ em relação ao Brasil no que diz respeito à economia digital, 7% das localidades não tem cobertura de rede móvel”, reforça. “Quando olhamos pro Norte, em muitos estados somente em torno de 20% das localidades têm cobertura. Uma precariedade que dificulta muito o desenvolvimento da economia e do acesso a essa tecnologia pela população dessas localidades.”

A quantidade de acessos via rede móvel mantém o DF com 115 acessos para 100 habitantes e SP com 114. O MA tem destaque negativo com 67,3 acessos por 100 habitantes.

Acesso à tecnologia

O preço, ou o custo do acesso à tecnologia, também fazem parte do Ibesd. Os indicadores, nesse caso, analisam por região. “No Norte e Centro-Oeste o custo do acesso à internet banda larga é bem mais alto do que em outras regiões. No Norte chega a 104 reais essa média e no Nordeste é 66 reais, a região com menor custo para o acesso à internet banda larga fixa”, relata Ronnie. “Mas quando a gente olha para a internet móvel a realidade é outra. O Norte aí possui um dos menores valores, juntamente com o Nordeste. Já a região Sul é a que apresenta os maiores custos com quase 66 reais em média.”

A proporção de pessoas que não acessam à internet devido ao custo é muito grande em estados como AL (mais de 50%). No ES e RS e AC essa proporção é inferior a 20%.

O peso dos gastos com internet em relação ao salário dos trabalhadores é outro indicador importante. O índice foi medido levando em conta os que recebem até dois salários mínimos em relação aos que recebem acima de 25 salários mínimos. “Por exemplo, no estado do TO, o peso para o trabalhador de menor rendimento é 5,6 vezes maior do que para os que possuem rendimento mais alto. Essa proporção do peso no salário para o trabalhador de baixa renda também é muito alta em RR (4,1) e no MA (6,5). Já em outros estados como CE e PE, esse peso é praticamente o mesmo, com 1,1 ou 1,2.”

Setor privado

O Ibesd mensurou as empresas com internet rápida, algo que é vital para uma boa inserção na economia digital das empresas, avalia o cientista de dados. “O melhor estado é do DF onde metade das empresas tem internet com velocidade superior 34 megabites por segundo, que é velocidade mais rápida medida pela Anatel. Outros estados como RJ, SC e SP possuem uma proporção de 40% das empresas. As melhores empresas do país possuem uma proporção baixa de internet rápida. Em outros estados é ainda pior. No AC e AM possuem menos de 20% das suas empresas com internet rápida.”

Destaque também para o número de empresas que fabricam produtos de informática, eletrônicos e óticos. “Elas estão concentradas na região Sudeste e Sul. SP tem 1.272 empresas. O AM tem 109 empresas no setor e está totalmente relacionado à Zona Franca de Manaus”, enumera o pesquisador. “A gente tem uma distribuição bem desigual para que a economia digital nacional se desenvolva no território brasileiro”, critica.

No que se refere à integração de tecnologias, o destaque vai para as empresas que usam big data, que têm setor de tecnologia. E a proporção é muito baixa. “A região que mais usa é a Norte, onde 13,4% dessas empresas utilizam big data. No Centro-Oeste são 12,8%. Outras regiões possuem 5,8%. O Sudeste tem 9,7%, mas tem número muito maior de empresas. O Norte tem concentração de grandes empresas, principalmente na Zona Franca de Manaus. E as grandes empresas são as que têm tendência de utilizar mais big data.”

Segundo o Ibesd, 63% das compras online feitas no país foram efetuadas por moradores na região Sudeste. Apenas 2,1% são feitas por moradores do Norte.

Quando o tema é inovação e resiliência, o destaque vai para o peso das exportações em TI. Esse indicador aborda a participação do valor das exportações no valor da importação. “Somos um país extremamente importador de tecnologia e quase nada exportador. É o que esses dados mostram”, lamenta o pesquisador do Instituto Lula. “Tem estados que exportam muito mas importam muito. O RS, por exemplo, exporta o valor correspondente a quase 26% do valor que ele importa. E essa é a melhor situação do país. SP é o segundo e exporta 8,37% do montante que importa”, explica Ronnie. “Isso mostra nossa grande dependência da tecnologia que vem do exterior e evidencia o que foi desmontado da nossa indústria de tecnologia. Outros estados tem percentual inferior a 1%. Uma situação bem vulnerável.”

Setor Público

Nesse setor, o destaque é o indicador da proporção de prefeituras que oferecem serviços online. “Estados como ES, MS e RJ têm 86% das prefeituras com serviços online para a população. Em outros estados cai pela metade. No AC e AM apenas 40% das prefeituras oferecem algum serviço online para a população”, mostra o pesquisador.

“Uma tendência e a população está cada vez mais acostumada com esse tipo de serviço é o atendimento online em tempo real”, diz Ronnie. “E essa proporção nas prefeituras é bem baixa. Destaque para o AM onde 45% das prefeituras oferecem esse serviço. PE tem 26% e o AC 20%. Outros estados como SP tem apenas 10% das prefeituras oferecendo esse atendimento. Em SC e RS é menor ainda”, aponta. “Um serviço de grande auxílio para a população que ainda é muito precário em geral no país. E aqui cabe um olhar crítico, já que as prefeituras que têm maior proporção estão em estados que possuem poucos municípios. Ou seja, três, quatro que façam esse atendimento aumenta muito a proporção. MG tem mais de 600 municípios então precisa de um número muito maior de prefeituras para que esse indicador suba”, exemplifica.

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