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Pandemia acabou com utopia do multilateralismo solidário

Aula promovida pelos institutos Lula e Patria tratou do envelhecimento de organismos internacionais criados no pós-guerra, como ONU, FMI e OMC


Pandemia acabou com utopia do multilateralismo solidário

Reprodução

“Se alguém acreditava que as instituições internacionais tinham um objetivo do bem comum global, isso acabou de vez com a pandemia.” A frase é do professor de relações internacionais Anselmo Otavio, da Universidade Federal de São Paulo (EPPEN/Unifesp). Em curso promovido pelos institutos Lula, do Brasil, e Patria, da Argentina, o pesquisador lembrou que o sistema ONU trabalhou para preservar os países ricos em detrimento dos pobres. E salientou: infelizmente, organizações que poderiam contrapor essa lógica, como a Unasul, foram debilitadas nos últimos anos por governos de direita no Brasil e na América Latina.

"Olhar para o futuro rumo a uma ordem mundial com paz e justiça social" é o tema do curso que teve sua primeira aula ministrada no dia 20 pelo professor Anselmo, do Brasil, e pela doutora em Sociologia Monica Peralta Ramos, pesquisadora da área de economia política, da Argentina.

Monica Peralta falou sobre o desamparo que se vê no mundo inteiro, a enormidade de despossuídos. E como a sociedade se organiza em relações de cooperação e de dominação. “Parto da definição de que estamos num capitalismo global monopólico. Uma etapa de seu desenvolvimento muito particular”, disse. “Ele se expande pelo mundo maximizando ganâncias sem limite algum, em todos os aspectos da vida social”, criticou essa dominação.

Desigualdade 

O professor Anselmo Otavio lembrou os conflitos surgidos no pós-guerra, de intervenção em estados que representavam ameaças a uma lógica norte-americana de dominação. E o papel de grandes estruturas como FMI e Conselho de Segurança da ONU na manutenção dessa situação.

O brasileiro retrata ainda a crise de 2008, que coloca em xeque o neoliberalismo, com a atuação dos Estados Unidos em defesa dos bancos. “Dez anos depois, em 2018, temos o aumento grande da desigualdade, inclusive em países ricos. E o que se percebe é a ascensão dos governos de extrema-direita que traz como lógica a anti-globalização”, diz sobre a desvalorização do multilateralismo e do enfraquecimento da ONU.

Nesse cenário, explica o professor, o Sul Global busca um protagonismo, a exemplo da China e a União Africana. “A Unasul deveria se desenvolver muito mais, mas infelizmente por questão política de falta de percepção do sistema colocou-a em segundo, terceiro plano e ela perdeu o espaço.”

Acompanhe a aula

O curso

As aulas serão ministradas por pesquisadores brasileiros e argentinos sempre às quartas-feiras (20 e 27 de setembro, 4 e 11 de outubro), entre 18h e 20h.

“Rumo a uma nova arquitetura global de financiamento para o desenvolvimento” é o tema da aula do dia 27 de setembro ministrada pela socióloga argentina Maria Haro Sly e pelo professor titular do Instituto de Economia da Unicamp Ricardo Carneiro, ex-diretor executivo pelo Brasil no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington.

Depois, em 4 de outubro, “O fortalecimento do Estado e a política externa soberana” será o tema da aula o sociólogo, jornalista e doutor em economia Jorge Elbaum, e pelo professor de relações internacionais Fábio Maldonado, da Universidade Paulista (Unip), especialista em integração da América Latina.

No dia 11, o tema “Política fiscal na região: para uma maior e melhor distribuição” será tratado na aula do tributarista e professor argentino Alejandro Otero e da professora Esther Dweck, doutora em Economia da Indústria e da Tecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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