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Janine: Falas de Alckmin e Doria sobre ataques são 'absurdas'

Para ex-ministro da Educação, disparos contra a comitiva de Lula são o auge de uma situação que vem crescendo desde o impeachment de Dilma Rousseff


Janine: Falas de Alckmin e Doria sobre ataques são 'absurdas'

O então ministro da educação Renato Janine Ribeiro em 2015. Foto: Wikimedia Commons


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Por Eduardo Maretti
Da Rede Brasil Atual 

“Hoje, não se tem a menor ideia do que vai acontecer. Por exemplo, as decisões são pautadas no Supremo Tribunal Federal de maneira totalmente confusa. A presidente coloca o que quer. Em vez de discutir a questão geral da segunda instância, decidiu discutir o caso Lula, dando nome, endereço e CPF a uma discussão que não é do Lula, mas uma discussão de princípio. Nessa situação, passa-se a ter uma falta total de parâmetros.” O desabafo é do ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, após o ataque que atingiu dois ônibus da comitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Laranjeiras do Sul, no Paraná, na noite de ontem (27), com quatro tiros.

“Pode-se imaginar que pode até piorar, e ocorrer em algum momento um assassinato”, diz. Além do “relativo conformismo” da sociedade como um todo, diante de um episódio de tal gravidade e frente à crise do país, Janine Ribeiro se diz “espantado” com as declarações de lideranças políticas como o governador Geraldo Alckmin e o prefeito de São Paulo, João Doria, ambos do PSDB. “As declarações de Alckmin e Doria são absurdas. Há rivais que não conseguem ter uma posição civilizada nem numa situação como essa. Têm posições de brutamontes.”

Alckmin afirmou que “eles (o PT) estão colhendo o que plantaram". Já o prefeito avaliou que "o PT sempre utilizou da violência, agora sofreu da própria violência".

Para Janine Ribeiro, a situação extrema, assim como a manifestação de Alckmin e Doria, mostra a fragilidade e imaturidade da democracia brasileira. “Se nossos costumes políticos fossem mais maduros e exigentes, Alckmin não teria jamais a coragem de dizer o que disse. Nem uma pessoa como Bolsonaro estaria colhendo tantos trunfos e vitórias, se os valores democráticos estivessem fortes no país.”

Mas se a polarização da sociedade chegou a tal extremo, com o ataque à comitiva de Lula, o momento requer questionamentos. “A violência física mostra que estamos chegando ao nível da força e isso já acontece há algum tempo. Logo depois do golpe, houve ataques a tribos indígenas no Mato Grosso do Sul. Com o assassinato da Marielle impune, a sensação que muita gente tem é a de que o crime compensa”, diz o filósofo.

As instituições, a começar do STF, não estão fazendo sua parte para superar a crise que vem crescendo desde o impeachment. Nessa conjuntura, onde o tecido institucional do país se esgarça mais e mais, a perda de referenciais básicos “é tão grande que, ‘se Deus não existe, tudo é permitido’, como disse Dostoiévski”, diz Janine Ribeiro, em alusão ao romance Os Irmãos Karamázov. “Substitua Deus por princípios de convívio, pela Constituição, pela legalidade, e você tem uma situação em que não há mais referências na sociedade. A lei, a própria Constituição, a educação, o respeito ao outro, tudo isso sumiu, e estamos numa situação quase de guerra de todos contra todos.”

Contrapontos

O professor de Ética e Filosofia Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) destaca ainda a necessidade de fazer “contrapontos”. Por exemplo: considerando que, desde 1994, o país passou por momentos de otimismo, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, nos dois mandatos de Lula e na primeira metade do primeiro mandato de Dilma Rousseff, então, desde 1994, os tempos de pessimismo foram apenas nos quatro anos do segundo mandato de FHC e no período de 2013 a 2014 para cá. “Isso dá cerca de nove anos. Tivemos 15 anos de um Brasil quase eufórico, com o Plano Real, com os anos Lula, que se prolongaram um pouco no governo Dilma.  Quero dizer que, apesar disso, a sociedade brasileira não teve ter maturidade para saber que num momento difícil tem que ter forças internas”, analisa.

Sinal disso é o número de pessoas que dizem que não vão mais votar e que desprezam a política. “Como se isso adiantasse alguma coisa. As soluções passam por uma participação social maior, e não menor.”

Outro grande problema, diz Janine Ribeiro, é que a esquerda não tem demonstrado sabedoria para encontrar caminhos. “Nosso lado também não tem feito grande coisa. Está realmente se dispondo a enfrentar tudo isso e a lutar para não deixar mais as coisas acontecerem? Também não está. Teve a condução coercitiva (de Lula), os grampos ilegais, e agora tem a ameaça de prisão. E tudo isso aconteceu sem que houvesse, em nenhum momento, uma reação à altura, um basta. O que surgiu diante disso tudo?”

Segundo ele, nem estratégias radicais, ou a construção de uma frente ampla em prol da democracia, por exemplo. “Não se chega a um acordo, do ponto de vista da esquerda. Quando até o Reinaldo Azevedo condena um processo contra o Lula, você tem possibilidade de ampliar apoio para outros setores que são contra o golpe. Mas o fato é que não se consegue organizar propostas.”

Com tudo isso, o cenário, na opinião do professor, é obscuro. “É óbvio que vão impedir de todo jeito a volta do PT. Haverá qualquer pretexto. Já indiciaram o Jacques Wagner para evitar que concorra no lugar de Lula, e começaram a lançar suspeitas sobre o Fernando Haddad. Está na cara que é realmente um grande golpe.”

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