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Lula homenageia reitor incriminado sem provas pela Lava Jato


Lula homenageia reitor incriminado sem provas pela Lava Jato

Fotografia: Filipe Scotti (FIESC)

Na manhã de 14 de setembro de 2017, o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier, foi preso pela Polícia Federal, na chamada Operação Ouvidos Moucos. 

Alvo de uma investigação conduzida pela delegada Érika Mialik Marena, ex-coordenadora da Operação Lava Jato, em Curitiba, e da Ouvidos Moucos, em Florianópolis, Cancellier foi preso por supostamente tentar atrapalhar investigação da corregedoria da UFSC. Ele não era suspeito de corrupção. 

O reitor foi levado para a cadeia, algemado, submetido à revista íntima e ficou em cela de segurança máxima por mais de um dia. Cancellier foi liberado da prisão, mas impedido de entrar na Universidade e de ter contato com todos que trabalhavam lá. Dias depois de ter sido solto, suicidou-se, deixando um bilhete: “A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade!!!”. 

O inquérito foi encerrado e, após leitura das 817 páginas que compõem o relatório final da Polícia Federal, foi concluído que não existem provas que incriminem o reitor Luiz Carlos Cancellier. 

Na última quinta-feira (19), em encontro com os reitores das Universidades, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou uma homenagem a Cancellier, vítima fatal da convicção sem provas de uma delegada. 

"São cinco anos e quatro meses que esse homem se matou pela pressão de uma política ignorante, de pessoas insensatas que condenam antes de investigar e julgar", afirmou o presidente. 

Leia abaixo o texto do chefe de gabinete do reitor da UFSC:

Por Aureo Moraes 

A tragédia que se abateu sobre o amigo Luiz Carlos Cancellier representou muito mais do que alguns supunhamos nas primeiras reações. Fomos, todas e todos, tomados pela brutalidade dos atos que o levaram, e a outros seis colegas, à prisão sem provas, à humilhação sem motivo e à condenação sem sentença. Houve, é verdade, um sem número de respostas à altura da arbitrariedade e da truculência. Os nomes e funções públicas dos autores e das autoras do crime contra o então reitor são notórios. E suas ações imotivadas estão públicas. 

Contudo, as Instituições - incluída aí a própria UFSC - foram tímidas em suas manifestações. Notas de pesar, de repúdio, de solidariedade existiram. Mas o curso do patético processo judicial revelou aquilo que havia de mais grave em sua existência: era um método. O mesmo método que, cerca de sete meses depois de prender Cancellier, prendeu o agora presidente Lula. Uma prisão sem provas, uma humilhação sem motivo e uma condenação sem sentença.

Para nós que privamos da companhia e da postura de Cancellier, a menção oportuna e sensível feita pelo presidente na recente reunião com reitores e reitoras das IFEs é, particularmente por isso, renovadora. Na perspectiva da Ciência e do conhecimento,  pelo que traz de compromisso com a defesa das Universidades enquanto instituições,  tão duramente violadas no governo anterior. E, do ponto de vista dos amigos de Cancellier, pelo necessário reacender de sua memória, guardada em cada sala de aula, em cada laboratório,  em cada espaço que ele percorreu. 

O tributo que o presidente prestou acalma-nos no luto. Anima-nos no sentido de seguir com os passos que Cancellier deixou marcados e restaura-nos a crença de que é possível ao mesmo Estado algoz tornar-se, agora, benfeitor. A trajetória do presidente Lula é,  em si, motivadora. Vítima dos agentes públicos que golpearam a democracia e tentaram, novamente ameaçá-la, une o seu percurso ao de Cancellier. E nos aponta que a inspiração de ambos restitui a esperança de que a educação é,  verdadeiramente,  transformadora.

A homenagem que o presidente presta é justa e necessária. Contudo ainda perseguimos a completa responsabilização dos agentes públicos, de modo que suas condutas sejam severamente apuradas. Para que nada próximo disso se repita.

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