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Tecnologia pode acelerar redução de jornada de trabalho

Na última live do curso ?Economia e Sociedade Digital: uma introdução", o professor apresentou um panorama das alternativas políticas na era digital.


Tecnologia pode acelerar redução de jornada de trabalho

Professor Rodrigo Santaella/Reprodução YoTube

Na última live do curso “Economia e Sociedade Digital: uma introdução", o professor apresentou um panorama das alternativas políticas na era digital

“Nas duas visões sobre o desenvolvimento tecnológico (positiva e pessimista) há um determinismo. Em ambas, há um equívoco que o desenvolvimento tecnológico é um bem ou mal em si próprio. Isso é simplista. As tecnologias têm a ver com o contexto social nas quais estão inseridas”, afirma o professor Rodrigo Santaella que participou da live “As alternativas políticas em tempos de economia e sociedade digital: democracia e novas formas de organização social e econômica”, última aula do curso “Economia e Sociedade Digital: uma introdução”. O professor pondera que as tecnologias concretas das quais temos acesso são resultado de um hegemonia capitalista neolibelal, machista, sexista, eurocentrada, racista e heteronormativa. Por isso, a produção de tecnologia é idealizada para servir as diretrizes capitalistas de lucro e domesticação. No entanto, por meio da dominação da produção tecnológica, o campo progressista de esquerda pode acelerar processos de automação do trabalho, da distribuição de uma renda básica, da redução da jornada de trabalho e da conquista de uma maior qualidade de vida para a sociedade como um todo.­­

Santaella é professor no Instituto Federal do Ceará (IFCE) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE), instituições das quais ele trata o tema. A aula foi mediada pelo organizador do curso, Edemilson Paraná, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de Brasília (UnB).

A aula foi separada em três pontos: como lidamos com a tecnologia, oportunidade para a esquerda e desafios da era digital.

1 – Como lidamos com a tecnologia?

De acordo com Santaella, a forma na qual a tecnologia se desenvolve sempre impacta brutalmente a sociedade. O surgimento da máquina a vapor no século 18, o telegráfo no século 19, a internet, a TV e o telefone no século 20, e como os smarthphones impactam nossa vida hoje comproriam a tese.

O desenvolvimento tecnológico é interpretado de duas formas pelos estudiosos, de acordo com o professor.

A primeira interpretação é a tecnologia como um tipo de salvação. Nesse sentido, a era digital seria um caminho para a humanidade ter informação livre para todos e a tecnologia transformaria o mundo para melhor criando uma aldeia global dentro de uma comunidade virtual.

Na segunda forma de interpretação, o desenvolvimento tecnológico é entendido como algo ruim, que desconecta o ser humano de sua essência, distorce valores da sociedade e encaminha a humanidade para um caminho distópico e desorganizado.

Santaella cita a análise de Andrew Keen, autor do livro The Cult of the Amateur (O Culto do Amador). O livro critica a web 2.0 citando como exemplo a Wikipédia e seus equívocos. Keen também faz críticas no livro à relação amador-profissional que nasce na internet e argumenta que isso piora a qualidade de toda a produção de conteúdo. Outro exemplo dado por Santaella foi o caso de um jovem que atirou e matou pessoas no cinema de São Paulo, em 1999. A sociedade debateu naquele momento se os jogos de computador que o criminoso jogava foram a inspiração do crime. A investigação chegou a fazer a reconstituição de um dos jogos encontrados no computador do jovem para verificar as similaridades com o crime. Por fim, Santaella cita Byung-Chul Han, filósofo coreano que ataca a forma como são usadas as redes sociais e, por isso, se tornou viral na internet. Para Han, celulares são instrumentos de dominação e domesticação das pessoas. O filósofo defende que é necessário alternar tecnologias e humanizar. A preocupação é com o desenvolvimento da tecnologia e não com a tecnologia em si.

Nesse sentido, Santaella explica que há um “código técnico”, que seria o espírito de um aparato tecnológico. Ou seja, na tecnologia estão embutidas valores sociais que modelam a forma como as ferramentas são produzidas. Portanto, o que é considerado eficiente está atrelado ao lucro e com a busca de capital.

2 – Oportunidades para a esquerda

Santaella afirma que há uma parcela do campo político de esquerda que entende os últimos avanços tecnológicos com entusiasmo. Para esse grupo, há uma corrente de pensamento chamada aceleracionismo, que acredita que há formas de tomar os meios de produção capitalista, acerá-la e, assim, tornar a sociedade mais justo

O professor cita que um bom exemplo dessa corrente de pensamento está no livro “Inventando o futuro: pós-capitalismo e um mundo sem trabalho”, de Nick Snricek e Alex Williams. O livro defende que a automação via substituir o trabalho humano e por isso não devemos lutar por um trabalho que já está precário. O correto seria lutar para acelerar a automação e lutar por reformas como renda básica, redução da jornada de trabalho e discussão sobre a ética do trabalho.

Outra obra citada como exemplo desta corrente de pensamento é o livro “Comunismo de luxo totalmente automatizado”, de Aaron Bastani. A ideia central é que estamos atravessando os primeiros momentos de ruptura tecnológica oriunda especialmente baseada no aumento exponencial da capacidade de armazenamento de dados. Não se trata de saber se o trabalho humano será substituído pelas máquinas, mas sim a velocidade com que isso ocorrerá e a maneira em que a sociedade compartilhará seus benefícios. 

Para finalizar a explicação sobre aceleracionismo, o professor fala sobre o livro “Socialismo de plataformas” (Platform Socialism), de James Muldoon. O livro defende que devemos retomar o nosso destino das mãos das empresas de tecnologia e é possível organizar a sociedade por meio de plataformas cooperativas. Santaella dá o exemplo de Araraquara: os motoristas de aplicativos recebem subsídios estatais e o valor cobrado dos usuários é menor.

3 – Desafios da era digital

É possível organizar as trocas e as informações sem depender das dinâmicas do mercado? Para o professor, esse é a principal questão do socialismo moderno: a planificação econômica democrática versus a economia de mercado. Santaella aponta que os principais desafios na perspectiva da era digital são dominar as plataformas e conhecer os riscos tecnológicos inseridos no capitalismo.

Abaixo, veja o vídeo da aula na íntegra:


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