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Telegramas do Itamaraty: veja o que Lula fazia em suas viagens pelo mundo

Comunicações divulgadas a pedido da imprensa revelam defesa dos interesses brasileiros, da cooperação com a América Latina e a África e debate de alto nível sobre temas globais


Telegramas do Itamaraty: veja o que Lula fazia em suas viagens pelo mundo

Reprodução de telegrama de 2007, relatando viagem de Lula à Alemanha

A pedido da imprensa, o Itamaraty divulgou mais de 2 mil páginas de telegramas dos seus diplomatas entre 2003 e 2010, em que embaixadores e funcionários do Ministério das Relações Exteriores relatam suas atividades. Não se tratam de todos os telegramas desse período: o pedido da imprensa foi direcionado às trocas de mensagens que citassem empresas brasileiras, com o objetivo de encontrar irregularidades.

No entanto, as mensagens revelam uma atuação altiva e de primeiro nível do Brasil em defesa dos interesses nacionais e pela construção de um mundo de relações mais equilibradas. Talvez por isso, os jornalistas que pediram o material o tenham tornado público na íntegra, mas sem ainda terem feito matérias sobre ele.

Ainda em 2005, segundo ano do governo Lula, os resultados da prioridade à América Latina nas relações políticas e comerciais já demonstrava resultado. Em relato sobre encontro bilateral com o Peru, o embaixador brasileiro destaca que, de 2001 a 2004, o intercâmbio comercial entre os dois países cresceu 90% (de US$ 517 milhões anuais para US$ 980 milhões). Também em 2005, Lula foi ao Panamá negociar um centro de distribuição de produtos brasileiros no país, que conta com o principal acesso marítimo de transferência entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

Em 2009, na descrição de uma rodada preparatória para encontro entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Venezuela, Hugo Chávez, os diplomatas relembram que, durante a pior crise econômica desde a década de 1930, as boas relações entre os dois países ajudaram o país a postergar os efeitos da crise: à época, a Venezuela foi o segundo país gerador de superávit comercial para o Brasil, atrás apenas da China. Dos US$ 3,3 bilhões em intercâmbio comercial entre os dois países naquele ano, 90% eram exportações brasileiras --a Venezuela, cuja economia é dependente do petróleo, não produz diversos bens que o Brasil vende.

O sucesso das parcerias binacionais levaram o Chile, da presidenta Michelle Bachelet, a convidar, em 2009, o Brasil e as empresas brasileiras a integrar o projeto de túnel ferroviário de baixa altitude que ligaria o país à Argentina e melhoraria a circulação de bens no cone sul.

Em 2010, telegramas relatam como o governo Lula deu início à preparação de extenso tratado de livre comércio com o México, considerado prioritário para as relações entre os dois países. Em maio deste ano, durante visita ao país, a presidenta Dilma Rousseff deu andamento aos ajustes necessários para que o acordo seja mutuamente benéfico para os dois países.

No diálogo com a África, o governo Lula já demonstrava ênfase no compartilhamento de experiência com políticas públicas de transferência de renda e de formação profissional. O governo brasileiro foi ativo na organização de debates e seminários, além de tomar tomar atitudes importantes como a organização de seminários técnicos sobre desenvolvimento para os países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, construção de hidrelétricas e transferência de tecnologias de agricultura e distribuição de alimentos. Em 2010, no Moçambique, o brasil ofereceu-se para intermediar uma cooperação trilateral que incluiria o Japão para profissionalizar as culturas de arroz e trigo do país africano.

Já na Alemanha, em 2007, telegramas relatam como Lula falou a empresários da Mercedes-Benz e outras empresas do setor sobre o incremento dos investimento no Brasil, em especial na produção de caminhões movidos a biodiesel, tecnologia brasileira.

A ação do governo federal, no entanto, não foi apenas de promoção de oportunidades nos dois governos de Lula --havia prioridade, também, em proteger as instituições e empresas brasileiras. Em 2008, o governo federal foi firme com o Equador para garantir o pagamento de empréstimos feitos pelo BNDES para obras de infraestrutura realizadas por empresas brasileiras no país, com o objetivo de garantir a conclusão dos projetos. Em 2009, em momento de tensão bélica no Oriente Médio por conta do programa nuclear iraniano, o Itamaraty discutiu um plano de contingência para os cidadãos e empresas brasileiros em caso de conflito armado no país.

Nos diálogos com o Irã, o Brasil exerceu alguns de seus momentos de maior relevância no cenário internacional. Entre 2008 e 2009, as mensagens entre diplomatas revelam como, enquanto as potencias mundiais preparavam o isolamento político e econômico do país, o Brasil mantinha contato estreito com o Irã para desempenhar permanente defesa da estabilidade regional e da resolução de conflitos de forma pacífica.

Naquele período, entre os telegramas selecionados para atender ao pedido específico da imprensa, Lula e seus embaixadores mantiveram diálogo para a reforma do Conselho de Segurança da ONU, com a criação de cadeira permanente para o Brasil, com Namíbia, México, Guatemala, Peru, Angola, Moçambique, Cazaquistão, Panamá, República Dominicana e Honduras. Desses, não obteve manifestações públicas de apoio apenas do Panamá.

Os telegramas registram também a ação de outros governantes brasileiros. Em 2009, uma delegação da Líbia, à época presidida por Muamar Gaddafi, veio a São Paulo encontrar-se com o então governador José Serra (PSDB) e o então secretário de Desenvolvimento Geraldo Alckmin (PSDB). No encontro, Alckmin sugeriu aos líbios parceria com a agência Investe SP, que, apesar de privada, tinha contrato de gestão com o governo estadual para a área de fomento. Os emissários líbios foram convidados para ir ao interior paulista conhecer oportunidades de negócios com empresários paulistas.

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