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Lula: Brasil só sai da crise com investimento público

Ex-presidente participou nesta terça-feira de ato em defesa da democracia brasileira em Berlim: “Se não sabem, aprendam: é o governo que tem de investir para gerar confiança”


Lula: Brasil só sai da crise com investimento público

Foto: Ricardo Stuckert

Por lula.com.br

Na Alemanha, o ex-presidente Lula participou nesta terça-feira (10) de ato em defesa da democracia brasileira. “Se não sabem, aprendam: é o governo que tem de investir para gerar confiança”, disse Lula em Berlim. “O Brasil não está precisando de mais um golpe, está precisando é de mais democracia.”

Veja o que Lula disse sobre a crise econômica, Bolsonaro, democracia e povo na rua:

“Vocês estão vendo a crise que o mundo está vivendo. Uma crise econômica e uma crise financeira. Econômica porque o país que puxava a economia, que era a China, com o coronavirus está deixando de produzir muita coisa, está deixando de comprar muita coisa, e isso tem uma influência negativa no comércio do mundo inteiro. E uma crise financeira porque o mundo tá cheio de banco que pode quebrar, porque banco vive de vender papel, sem produzir um pente, uma escova de dentes, e pode quebrar como aconteceu com o Lehman Brothers em 2008, que nós já gastamos 25 trilhões de dólares e ainda não conseguimos resolver o problema do sistema financeiro.

Estejam preparados para dias difíceis no Brasil. A economia não cresce, o PIB não cresce. Vocês viram pela internet: o PIB só cresceu 1 por cento e o presidente, cara de pau como é, ao invés de explicar à população, preferiu contratar um humorista da Record do Rio de Janeiro para esculhambar o não crescimento do PIB. Seria melhor e mais digno ele ter coragem de falar para o povo por que que o PIB não cresceu. E não vai crescer enquanto eles não falarem a palavra desenvolvimento, política industrial, geração de emprego, distribuição de renda, ao invés de falar só em pacote fiscal, em corte, em emenda 95 e, mais ainda, falar em vender patrimônio público.

É inacreditável que mais uma vez o que a gente vê é uma tentativa de desmontar o estado. O discurso mais simples é o seguinte: “O estado arrecada muito, é preciso diminuir a arrecadação do estado. E o estado gasta muito mal. É preciso então que os empresários governem o país”. Vocês estão lembrados de quando a Fiesp colocava os patinhos do quem vai pagar o pato? Por que que ela não coloca o patinho agora e vai cobrar do Bolsonaro? É porque a verdade nua e crua é que nos países mais justos do mundo o estado tem de ser forte, porque só quem faz política social é o estado. Só quem faz política para o pobre é o estado. Se o governo não presta, troca-se o governo. Mas o que não dá é achar que o estado fraco resolve o problema da população. Não resolve.

Vocês estão lembrados da crise de 2008, e muita gente zombou quando eu disse que a crise era só uma marolinha, que ela ia passar rápido e que a gente ia consertar o Brasil. O que aconteceu? Nós tivemos um ano muito duro porque a indústrias automobilísticas, em função da crise da economia nos seus países, reduziram a produção no Brasil. Mas em 2010 o Brasil já voltou a crescer 7,5 por cento. Se essa gente que está governando o Brasil quiser resolver os problemas do Brasil só tem um jeito. Não adianta jogar a culpa em cima da China, não adianta jogar a culpa em cima do coronavírus, porque o Brasil é um país grande, tem 210 milhões de habitantes, tem um mercado consumidor extraordinário.

Se a gente quiser recuperar a economia brasileira, deixem de olhar pra China. O governo que faça investimento como eu fiz. Na época nós colocamos 100 bilhões pra financiar a economia. O governo que abra crédito pras pessoas investirem, o governo que coloque investimento em infraestrutura, porque na hora que o governo investe as pessoas começam a acreditar e podem começar a investir. Se o governo não acabar com a política de contenção de gastos que ele está fazendo, com a PEC 95, que não vai gastar nada, se o governo não parar de acumular dinheiro pra pagar taxa de juros, se o governo não colocar dinheiro para investir no desenvolvimento, sobretudo em obras de infraestrutura, o Brasil não vai se recuperar tão cedo.

É importante que eles saibam, se eles não souberem é importante que eles aprendam, que só tem um jeito do Brasil se recuperar: é o governo começar a fazer investimento público para começar a desenvolver o país. Porque nenhum empresário vai investir no Brasil, num estado em que o governo não acredita nele. Porque na hora que o governo acredita no seu discurso, ele faz acontecer. Se ele não acredita, se o governo não tem credibilidade, e não merece credibilidade, se o governo não é um governo previsível, e não passa previsibilidade para a sociedade, eu quero saber quem vai investir no Brasil. É ele, o governo, que tem que investir

Se eles não sabem cuidar do país, lamentavelmente, é uma lição triste que o povo vai ter que aprender com essa gente que tá lá. Porque até agora eles não utilizaram a palavra política industrial, a palavra crescimento econômico, a palavra investimento e a palavra financiamento. E sem essas coisas não há economia que cresça em nosso país. E o Brasil não tá precisando de mais um golpe, o Brasil não tá precisando de mais arrocho, o Brasil está precisando é de mais democracia.

A democracia não é um pacto de silêncio em que a sociedade fica quieta esperando o governo fazer as bobagens dele. A democracia é uma sociedade em movimento, em busca de conquistar mais direitos. E é isso que nós brasileiros temos que aprender. Ou nós vamos pra rua exigir que esse governo respeite os direitos da sociedade, ou nós vamos pra rua exigir que ele cumpra os compromissos com a educação, os compromissos com a Ciência e Tecnologia…

Ele agora está convocando um ato pela internet de apoio a ele. E como todo mundo sabe a quantidade de milicianos que ele organiza no Brasil, todo mundo sabe o que aconteceu no Ceará recentemente, com orientações quem sabe até do próprio governo para que houvesse um motim no quartel do Ceará. Todo mundo sabe a ligação deles, todo mundo desconfia de quem matou Marielle, possivelmente tem gente lá em cima que sabe, só quem não sabe é o povo brasileiro.

Se tem uma coisa que eu aprendi em 580 dias na Polícia Federal é que não tem outro jeito a não ser lutar. Se a gente esperar que alguém vá conquistar a democracia pra gente, se a gente esperar que alguém vai conquistar a liberdade que a gente quer ela não vai acontecer. Nós temos de ir pra rua defender os interesses do povo brasileiro.”

Confira outras atividades desta viagem:

1º de março de 2020: 

. Lula encontra líder do Movimento França Insubmissa Jean-Luc Mélenchon, candidato à Presidência da França nas eleições passadas

2 de março de 2020:

. Na França, Lula encontra Sebastião Salgado e discute defesa da Amazônia

. Lula se reúne com o ex-presidente francês François Hollande

. Lula recebe o título de Cidadão Honorário de Paris

Ao lado de Dilma e Haddad, Lula participa de debate com a prefeita de Paris Anne Hidalgo

Lula é capa do jornal suíço Le Temps

3 de março de 2020:

. Lula encontra Piketty: “Não se diminui a desigualdade sem mexer no coração da riqueza”

. Lula é homenageado com festival cultural em Paris

4 de março de 2020:

Lula encontra o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy

. Lula e Enrico Letta, ex-primeiro-ministro da Itália, discutem fascismo e crise migratória

5 de março de 2020:

. Lula se reúne com delegações dos Partido Comunista Francês, Partido Operário Independente e Partido Socialista

Lula em liberdade é o tema de matéria de capa do jornal francês L´Humanité

. Lula concede entrevista à Rádio France, em Paris

. Lula encontra Richard Kozul Wright, diretor da UNCTAD, e com o ex-ministro Nelson Barbosa

. Em Genebra, Lula e o ex-ministro dos Direitos Humanos Paulo Sérgio Pinheiro debatem lawfare e direitos humanos

6 de março de 2020:

. Na Suíça, Conselho Mundial de Igrejas recebe Lula

. Lula encontra pai de Assange e defende liberdade de fundador do Wikileaks

. “Remédio contra Bolsonaro é mais democracia”, diz Lula em entrevista ao Le Monde

. Em Genebra, Lula participa de debate sobre a desigualdade com sindicatos globais

. Olav Fykse Tveit, secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas: “Lula, o nome que nunca podemos esquecer”

8 de março de 2020:

. De Berlim, Lula envia mensagem ao I Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra

9 de março de 2020:

. Lula encontra o escritor mineiro Lucas Figueiredo e recebe presente das bordadeiras do Curtume

. Lula se reúne com o diretor-geral da OIT, Guy Ryder

. Lula visita a sede do Partido Social-Democrata da Alemanha e conversa com o presidente do partido, Norbert Walter-Borjans

. Lula participa da conferência “Unidos e mais fortes juntos 2.0 - Estratégias transnacionais para o fortalecimento do poder sindical”

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